Personas

As pessoas são inacreditáveis. Isso é fato. Como disse alguém, que certamente não me lembro agora, “visto de perto, ninguém é normal”. Isso nos leva a pensar em vários aspectos do ser humano, que são suas neuras, suas crueldades que quando não encarados e trabalhos como se deve, resvalam fatalmente para a hipocrisia.

Mas a hipocrisia em si, não é o pior aspecto da não aceitação de si próprio.

O maior problema é a violência que se auto-impinge, em nome da normalidade. Quando se assume uma persona social perfeita demais, boazinha demais, há que se saber que boa coisa não se esconde ali. Ninguém é bom, compreensivo e perfeito o tempo todo. Pessoalmente me surpreendi muito negativamente com esse tipo de comportamento, pois as pessoas que se apresentavam assim, mais tarde se revelaram de um caráter muito dúbio e flexível.

Mas pensemos nos efeitos que esse comportamento produzem: para quem está perto, é comum comentários do tipo “como fulano é bom”. Ou ainda:” ele é uma pessoa incapaz de fazer mal a alguém”. Que bom seria se existissem pessoas assim. Mas não existem. E quem leva essa fama, certamente tem o espírito machucado, ou porque está tentando passar uma imagem que não condiz com a realidade, ou porque apesar de apresentar esse espírito bondoso, gostaria que todos soubessem que não é perfeito, e é passível de erros.

Fato é que todos nós, escondemos coisas feias do mundo. Isso faz parte até de nossa sobrevivência. O que não pode prevalecer, no entanto, é a imagem idealizada. E isso no aspecto negativo também. Ninguém é tão ruim que não possa melhorar. Apesar de hoje em dia, ter uma aura maligna tem até um certo charme. Infelizmente.

Se as pessoas fossem talvez mais atentas, não se prenderiam nos aspectos mais externos para fazer um juízo de valor. As pessoas estão além do que elas falam, ou de como elas se vestem e se comportam. Muitas, se traem nos atos, nas atitudes, apesar de haver pessoas suficientemente treinadas para fingir até olhares sinceros. Não espere de minha parte, em absoluto, uma receita para detectar o caráter verdadeiro das pessoas. Isso cabe a cada um. E digo que na maioria das vezes me engano. O melhor, em todo caso, é estar sempre preparado, com o seguinte pensamento: ninguém é perfeito. Ou ainda: ninguém é normal.

Isso fica claro, quando percebemos que as pessoas são movidas por várias coisas. Ou por amor, ou por ódio, ou por vaidade, ou ambição, enfim, todo tipo de sentimentos. E cada um escolhe uma via para chegar aos objetivos. Por mais absurdo que possa parecer, digo que a maioria das relações, são movidas por algum tipo de interesse. Ou afetivo, ou material. E tudo isso, para se adequar ao mundo, ou para compensar frustrações e para que a pessoa se sinta um pouco mais normal.

Uma coisa é certa: personas muito elaboradas, muito falsas, produzem terríveis marcas na personalidade. Algumas irrecuperáveis. Não é errado buscar adequação ao meio. Mas há que se cuidar para que o indivíduo não perca sua essência. Afinal de contas, o mundo não é feito só do externo. Pode ser que os anseios, em absoluto, não tenham nada a ver com o meio. Antes de se buscar a adequação, é importante se tentar vislumbrar o que realmente faz feliz.

E uma coisa é certa: o excesso de pose, causa câimbras. E com certeza, nada é mais anormal e anti-fisiológico que as poses muito elaboradas.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 11/08/2006
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