As vezes os corretores de imóveis mentem.
Resolvi, por esses dias, não sei bem ao certo, alugar uma casa pra morar.
E sabe, até que achei rápido. Uma casa bonita, arejada, cheia de idéias novas e com as paredes recem pintadas. Era a casa que eu procurava, com cômodos e gavetas suficientes pra todas minhas coisas.
Fui morar sozinha com meu cachorro. Sozinha com meu cachorro, uma mala de roupas surradas, um abajur, uma caixa de sapato com minhas idéias e minha coleção de discos antigos.
Cheguei na casa nova e coloquei logo um disco pra tocar. Larguei minhas coisas pelo chão e fui abrindo as janelas ao som do rock que saia da minha vitrolinha. Abri as cortinas, Abri as janelas. Abri os portas pro vento circular pela casa. Quiz deixar o sol entrar, tirar aquele cheiro típico de uma casa aque está fechada há muito tempo, aquele cheiro de "guardado".
Fui abrindo toda e qualquer porta que achava no caminho. O rock aumentava ao fundo. Uma guitarra marcante. Uma bateria feroz. Um baixo pesado. Um vocal desesperado.
Comecei a correr e chutar todas as portas. Velocidade. Vento nos cabelos. Sorriso no rosto. Olhos fechados. Chute. Chute, Chute...
Numa das portas eu me machuquei e quebrei alguns ossos do pé. Cai. Chorei. Doeu.
Percebi que não tinha mais música rolando. Percebi que já estava escuro. Percebi que meu cachorro estava lambendo minha mão. Eu estava no escuro e meu cachorro lambendo minha mão.
Depois de uns 15 min sozinha quando eu já estava saindo desse corredor, a porta abriu.
ELA ABRIU, eu gritei, ELA ABRIU.
Não havia nada demais naquele cômodo. Era simples, com paredes brancas e um poster da banda de rock que eu estava ouvindo na parede. Só havia uma cadeira de madeira, uma cama, uma estante com alguns livros e uma janela com a cortina voando.
Mas aquele era o melhor cômodo de toda minha casa nova.
Não queria mais sair do meu cômodo novo.