No silêncio dos meus passos

Volto silenciosa para casa, caminho até o ponto de ônibus e o silêncio é mesmo absoluto.

Barulho dos meus pés no chão, das batidas do meu coração, de algo que está além de mim - o silêncio permanece.

Entro no ônibus, barulho de voz, a minha – bom dia! É o que eu digo e só. Não ouço mais, nada mais!

Há um lugar vazio, enfim.

Olho pela janela todo o movimento das pessoas na rua, todo o movimento que o vento faz em cabelos, em peças de roupa, cada movimento que as nuvens no céu nublado fazem.

O voo dos pássaros, tão silencioso quanto meus pensamentos.

Há um silêncio inteiro, pleno, extenso, envolvente e, às vezes, sofrível.

Não há notas musicais, parece não haver obstáculos no vento, pareço ter me perdido de todo o entendimento – não há razão.

Silêncio! Mais do que já era? Do que já há?

Há um silêncio que vem de dentro, que paralisa, que cega, que ensurdece, petrifica.

Há um silêncio que vem do sol, que vem de um mundo que é entre parênteses e eu me coloco tão bem nele.

Vago de um lado a outro, caminho no escuro em pedras, armo barraca no meio do mar; esqueço das profundezas - mas já estou para além delas.

Clareio a solidão dos meus dias com letras ainda mais tristes de músicas que crio. Sim, elas clareiam algum caminho.

Esqueço onde estou. Ah, sim! Ainda no ônibus, não tinha greve, sem paralisações além das minhas, além de todos os meus membros perdidos...

Meu ponto final. Eu desço. Nada esqueço. Lembro ainda mais.

Volto para casa, distante, na verdade nunca estou em lugar algum.

Nunca estou mais só do que sempre estive.

E, agora, passo a ouvir gritos.

AnaNunes
Enviado por AnaNunes em 24/02/2010
Código do texto: T2105539
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