Quando a gente acorda achando que é Miró, ou Monet.
Hoje me deu vontade de pintar um quadro.
Peguei minhas tintas, pincéis e meu godê e sai por ai atrás de algo interessante.
Passei por ruas cheias, por cenários encantadores, por becos sombrios, mas nada prendia minha atenção. Nada. Tudo trazia em si uma sensação fulgaz, uma sensação fraca. Nada prendia minha atenção. Nada.
Bateu o desespero. Comecei a correr atrás de algo que valesse a pena, que me instigasse a criatividade. Algo diferente. Algo incomum.
Corri. Corri. Corri...
Até que tropecei nos meus próprios pés e parei. Olhei as tintas todas espalhas pelo chão, espalhadas pelas minhas roupas, pelo meu corpo, pelo meu cabelo...
E a tela lá intacta, sem nenhum pinguinho. Abri um sorriso, daqueles que a gente abre quando da um alívio. Respira, Suspira. Sorri.
Levantei, tirei a tinta dos meus olhos, da minha boca e nariz e segui para pegar a tela. Mas se eu pegasse nela, a sujaria e não poderia pintar mais nada. E se o cenário perfeito estivesse há apenas alguns passos de mim, pensei...
Há alguns passos. Há alguns passos.
Virei-me e vi que alguém também corria com uma tela em branco nas mãos, com suas tintas e pincéis ainda intocados. O vi tropeçar. O vi se sujar. O vi se lamentar. O vi se questionar sobre o que fazer da tela em branco. O vi olhar pra trás e me ver. Ele me viu lá, suja, sozinha, parada com uma tela em branco na minha frente.
Sorrimos um para o outro. Ele por saber que não estava sozinho. Eu por saber que tinha encontrado o que colocar na minha tela em branco. Gravamos nossos sorrisos na minha tela. Gravamos nossos beijos na tela dele.
Essas telas, hoje, estão penduradas na nossa sala de estar.