Religião, arte, amor e filosofia; edulcoradores da vida

Quanto de romance será necessário para se viver uma vida?

Em tudo quanto podemos, nós, os seres humanos, acrescentamos dados à realidade.

E qual seria o motivo de ser da arte, da religião, do amor e da filosofia?

Todos esses três são eufemismos da realidade, abrandamentos de sua terrível insipidez.

Sem arte, sem religião, sem filosofia e sem amor (o que será o amor?) o sabor da vida seria o mesmo da água potável:

Insípido, inodoro e incolor!

Mas tudo isso que devemos conhecer e viver, esses quatro acrescentadores de sentido à vida, devemos bem saber, que são somente isso: Instrumentos para dar sentido, sabor e cor à vida.

Nunca devemos nos esquecer de que a relação destes com a realidade é simplesmente NULA.

Isenta de supremas verdades.

A crueza da impalpável e ao mesmo tempo singela realidade deixaria qualquer homem com vontade de morrer no instante em que esta se descortinasse.

Por isso necessitamos do que imprecisamente denominamos pela imprecisa linguagem; das palavras amor, religião, arte e filosofia.

A filosofia, menos pecadora, possui o condão de perfurar as camadas de romance e dar-nos um pouco de ar puro.

A arte, a edulcoradora da vida por excelência, não passa de puro romance. Divina e transcendental em muitos casos, contudo também mentirosa e criadora de estados psicológicos alterados, desvinculados da vida real.

Sempre sua missão é nos transmitir a beleza impossível de ser vista na realidade crua.

Por meio da arte, da religião e do amor o homem se esquece de sua condição trágica.

Ou seja, de um ser para a morte.

Se este pensamento pessimista tomasse conta de nossos espíritos a vida seria insuportável. Sem os acrescentadores de sentido à vida esta seria uma experiência muito desagradável.

Por isso, criamos mundos, universos paralelos.

Dispomos da linguagem, simulacro imperfeito e representação infiel da realidade.

Se a filosofia é dos edulcoradores da vida a menos pecadora, pelo menos potencialmente, já o filósofo é aquele que mais peca.

Todo filósofo dogmático peca quando edulcora a vida fugindo da sua realidade.

Por estar mais próximo à verdade, por possuir os instrumentos que a ela conduz, o filósofo que serve à religião e ao Estado é o pior dos homens.

Portanto, vivamos o mais intensamente possível o romance, a religião, o amor, a arte, a filosofia e a linguagem.

Sem esquecer-nos de que em todos eles moram apenas representações e NUNCA verdades absolutas, nunca interpretações definitivas.

Tive esse insight hoje pela manhã quando ao ouvir uma música extremamente romântica, percebi que através do sentido da audição e do sentimento que a música me transmitia, ou melhor, com o sentimento que atribuí à música, eu poderia criar um universo.

A música, para matar a curiosidade dos(as) leitores(as), era “Ebony Eyes”.

Qual será nosso maior desafio?

Viver as representações, mas não sermos TOMADOS por elas. Envolver-se sem se entregar, ter consciência que atrás dos edulcoradores da vida, às vezes, há gigantes armadilhas.

Armadilhas que criam mundos e podem embriagar permanentemente um homem.

Vivamos o sonho sem nos esquecer de que não passa de um simples SONHO.

Frederico Guilherme
Enviado por Frederico Guilherme em 06/02/2010
Reeditado em 06/02/2010
Código do texto: T2073065
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