Desprezo
Há dias em que sentimos que nos falta algo, que nos esquecemos de determinada coisa ou que perdemos algo. Até aí tudo bem, são só impressões que, no entanto, passam com o desenvolver do dia-a-dia. O problema é no momento em que vem o dia em que isso sucede. Que realmente alguém nos foge por entre as mãos que não souberam segurar direito. Nem dá para sentir a textura do pano das vestes, o cheiro do perfume, relembrar uma última vez o brilho dos olhos. É um ferir fundo na alma miudinha no nosso íntimo, é como cortar a sangue frio uma porção do corpo sem nos pedir sequer consentimento, sem anestesiar. Sem nos pôr a dormir muitas horas, e com sorte o coração esquecer, no entanto, esse extravio. Porque é alguma coisa que não nos ensinam desde crianças, a manter uma segunda existência próxima da nossa para sempre. Eu queria tudo computado, tudo manifestado nas manchas de texto dos jornais, todas as teorias certas que conduziriam ao adiar dos magoares, dos inflares de impurezas e desprezos.