Um história real
Ontem, presenciei uma cena no mínimo curiosa.
Estava na fila do mercado esperando a minha vez de ser atendido no caixa. Do meu lado esquerdo duas mulheres, já quase senhoras estavam conversando, quando um menininho pediu as duas que elas comprassem um pão coberto com chocolate pra ele. A mulher relutou um pouco e pedia pro menino procurar outra pessoa. O menino insistia e insistia tanto, dizendo que estava com fome e que não tinha dinheiro suficiente para comprar. A mulher acabou falando que não compraria pois era muito caro, mas se o menino quisesse, ela compraria um panetone pra ele, que estava mais barato. O menino não aceitou, pois queria porque queria o pão com chocolate. Criança quando cisma com alguma coisa é difícil de tirar da cabeça. Mesmo nesta situação, em que ele estava pedindo pra outra pessoa.
Perdi o menino de vista, logo em seguida ele veio em minha direção:
-Moço, compra pra mim?
Logo que olhei pra ele de perto, pude ver seus olhos claros e vermelhos ao mesmo tempo, os dentes maltratados e uma aparência meio suja. Uma amiga do trabalho que estava comigo, disse que compraria.
O menino ficou cerca de 20 minutos ao nosso lado. Tanto eu como ela olhávamos atentamente o menino. Ela perguntou:
-Porque tem que ser esse?
-Porque esse tem chocolate. - disse o menino.
Perguntei o nome e a idade dele:
-Oito. É Matheus.
Fiz um teste com ele:
-Matheus o que está escrito aqui?
Ele me respondeu certo. Era o título de uma revista qualquer. Um sorriso bobo e surpreso veio em nós dois.
Pelo o menino, já tinha ido a escola. Então, alguém o tinha matriculado em uma escola. Porque será que ele estava daquele jeito. Quando olhei pra ele tive a impressão que ele tinha levado um soco na boca. Estava machucada e com alguns dentes quebrados. Perguntei a ele:
-Você brigou com alguém?
Ele me disse que não, mas falou isso de cabeça baixa e logo foi saindo de fininho, meio impaciente. Disse que iria embora sozinho pra casa, na chuva que acabara de começar.
Compramos o pão do menino, e ele desesperado disse obrigado e saiu correndo com o pão.
Pra onde foi, não sei. Se comeu aquele pão sozinho também não sei. Parecei um moleque de rua, mas um pouco esperto. Fiquei pensando em como aconteceu aquilo, como ele tinha entrado naquela situação. Todos no mercado olhavam com uma certa desconfiança, de que o menino roubaria alguma coisa, de que fosse um marginalzinho. Talvez, ele só não tenha tido a mesma sorte que nós tivemos de ter nascido em uma boa família.