Um canteiro no seu riso

Eu sai por ai colhendo flores. Elas estavam no meu caminho e as peguei. Todas elas. As Amarelas, as roxas, as brancas... Até rosas vermelhas eu encontrei. Colhi-as todas e coloquei junto do peito, pra que sentissem meu calor e quizessem ficar por lá. E elas ficaram.

As flores nada me dizem. Só ficam a olhar pra mim. Elas me olham e formam um quadro de Gustav Klimt. Pode ser "O beijo", pode ser alguma de suas obras eróticas. Mas as flores continuam sem me dizer nada, só me olham.

Eu sai por ai colhendo flores. Todas elas. As flores gostaram do meu calor e quizeram ficar. Gosto de flores. Gosto de flores? É, eu gosto de flores... Elas - acho que - gostam de mim. Me sorriem sorrisos maliciosos, me olham com olhares cuidadosos, me tocam com um toque bruto, me envolvem com seu perfume e me alucinam.

Mas elas morrem fácil.

Talvez eu não tenha colhido flores. Talvez eu tenha colhido outra coisa travestida de flores.

Pois bem, eu sei agora o que são essas outras coisas. São coisas maiores. Mas as flores não sabem, coitadas. Vou deixa-las achando que são flores enquanto puder, e vou acolhe-las em meu peito, em meu colo, em meu seio. E vou dar-lhes meu calor enquanto isso houver em meu peito.

Gabriela Mendes
Enviado por Gabriela Mendes em 03/02/2010
Reeditado em 08/03/2010
Código do texto: T2067130
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