Profissão Cruel
Em algum lugar desse meu longo e por vezes tão tortuosos caminhos, por mim percorrido, pego-me em um dado momento de joelhos sobre uma linha de chegada, por sobre ela, uma grande faixa exibi orgulhosamente as seguintes letras: FIM.
Não entendo seu significado, talvez seja um idioma ou dialeto que eu não domine, num rápido olhar vejo que ao redor dela, tem milhares de bobos da corte que com suas amígdalas a mostra, eufóricos, aplaudem de pé e pedem “BIS” para meu sofrimento...Mas eu os perdoou...Afinal já fui um deles...
E assim humilhada, de joelhos diante meu malfeitor, sangro! Enquanto ouço ao fundo, um chicote cortando o ar e de antemão pressinto a dor...Nem sei bem porque nessa hora, ergo os olhos, que até então beijavam meus pés e percebo que algo mudou...A linha que agora a pouco, orgulhosa rotulava-se de chegada, agora tinha outro nome:Largada! Os 300, os gregos e troianos que ali, outrora construíam seus cavalos de Tróia, foram embora. E nesse espaço vazio por eles deixados, surge um vulto, que não identifico a principio, pois uma forte enxurrada, teima em percorrer, entre os sulcos de minha máscara e que dificulta-me ver...Nem tenho certeza se essa imagem meiga seja mesmo real, talvez uma miragem ou quiça somente fruto do delírio de minha dor. Pisco...E olho para confirmar se ela ainda esta lá...Sim! Ela está esta, e teimosa não vai embora, mesmo com meu descredito, ela permanece ali, como um alento para um moribundo e com um largo sorriso nos lábios, me acena...Vem!
Trêmula...Sem compreender nada e com as poucas forças que me restam, num sussurro pergunto-lhe:—Quem és? Rapidamente ele me responde:— Recomeço é meu nome.
Nesse instante confusa, diante dos fato, e que, embora a realidade ainda seja a mesma, pois o retrogrado malfeitor continua a me açoitar, eu já não sinto mais a dor, aliás, consigo até ter o discernimento de perceber que meu facínora faz uso de um cabresto, o qual permite que ele veja o que eu vejo, mas não o deixa enxergar o que enxergo. O açoite que ele usa, que parece dar-lhe tanto prazer, ainda corta o ar, provocando um som que me é tão peculiar, ainda rasga minha pele, entretanto já não matam mais meus sonhos.
E assim imóvel, inerente a realidade, aguardo ansiosa o tiro de largada, para então deixar esse lugar sombrio e tenebroso, por que hoje sei, só assim seus apetrechos de torturas, os quais dão a ele tanta satisfação, não irão mais me ferir, por não poderem mais me alcançar...
fattoconsumado