DEJAVU

Quando andamos à procura de algo que não sabemos (mas nosso subconsciente sabe, embora não nos revele), o que comumente fazemos na adolescência, depois de o tempo ter passado sentimos saudade daquele algo que não encontramos, mas que ficou confuso em nosso subconsciente como se tivesse acontecido, porque o vivenciamos em nosso desejo inconsciente e o subconsciente não conhece a diferença entre a realidade e a fantasia.

Facilmente nosso subconsciente pode nos enganar confundindo o que desejamos muito (por isto vivenciamos), fazendo que nos pareça que vivemos de fato, então teremos saudades inexplicáveis, especialmente ancoradas em sons, imagens e odores. Uma música que gostamos muito sem entender de onde vem a simpatia por ela pode muito bem ter sido a sonorização de um momento desses de busca por algo que não se sebe o que é, mas que na verdade (essas coisas que não sabemos) são os verdadeiros desejos de nosso caráter, aqueles que não foram e nem são influenciados pela cultura externa, mas pela cultura que veio conosco em nossos genes, a cultura de quem realmente somos, talvez alguém cheio de sensibilidade, romantismo e poesia, que não se envergonha de amar e expressar seu amor doméstico, tampouco sua ingenuidade e pureza simples, tendo o coração cheio de amor para servir, mas está confundido na cultura externa do satisfazer-se a si mesmo e manter a aparência de armadura.

Podemos ter a alma requintada, submissa, amorosa e sonhadora confundida nesse mundo de interesses e combates, onde a singeleza e suavidade são sentenciadas de fraqueza, por isso interpretamos esse ser aguerrido, agressivo, irritadiço, intolerante, irreverente, insolente, rebelde e sem compaixão que se vê, às vezes, a embriagar-se e ou drogar-se, às vezes, tatuado e enfeitado de piercing, que muitas vezes é desleixado ou se veste com desleixo ou de forma funesta, que não suporta a censura, a crítica e a impulsão para o crescer do caráter, pois seu desejo de ser impermeável é extremamente sensível, como uma carne viva exposta, sentindo-se agredido e dolorido a todo toque.

Todavia, isso é aparência, fruto dessa cultura externa criada pela média do senso comum, que não é própria de ninguém naturalmente, mas uma composição, um mixe dos variados tipos e conceitos rebeldes sem causa que existiram e existem. A verdadeira pessoa, seus verdadeiros gostos estão sufocados no ser, acanhados por não serem aparentemente bacanas e modernos, mas podem ser manifestos descuidada e inconscientemente através de uma música que se gosta, através de algo do que se sente saudade, mas que se reprime por não parecer politicamente correto.

Por outro lado, com vistas em nos proteger ou salvar a muitas pessoas, muitas vezes Deus pode nos dar sonhos de situações que viremos a viver e então quando passarmos por momentos idênticos aos desses sonhos teremos a impressão de já tê-los vivido. Isso é o que chamam de dejavu. Algumas músicas que gostamos também podem ser a trilha sonora atrasada de momentos que já vivemos, pois cada momento requer uma música própria ideal, mas a que se encaixa poderá não estar presente no momento da cena, então nosso subconsciente poderá buscar encaixá-la no arquivo daquela lembrança específica logo que a encontrar. Em outros casos essas músicas podem ter sonorizado momentos em que éramos tão pequenos que nem nos lembramos, mas a melodia de alguma versão antiga ou da letra está ancorada no subconsciente sem relacionar lembranças ambientais e temporais com a lembrança do momento e da música em questão. E, por fim, uma música que gostamos muito pode ser simplesmente a combinação coincidente com a combinação previamente programada em nosso íntimo, então nos parece familiar, íntima e antiga, como nos parece familiar, íntimo e antigo o relacionamento com alguém com quem nos entendemos muito e naturalmente. Muitas vezes conhecemos alguém hoje e a pessoa nos parece conhecida há muito tempo. Pois ela pode ser simplesmente a combinação que coincide com uma combinação já montada em nosso consciente por nosso caráter, sendo uma mescla de nossas preferências, que podemos ilustrar com o filme Mulher Nota Mil.

O chamado dejavu, que dizem que são lembranças de vidas passadas, nada mais é do que lembranças de sonhos que não recordamos que sonhamos ou simplesmente a coincidência de uma combinação externa de uma pessoa com uma combinação preestabelecida no subconsciente. Quando nascemos nosso subconsciente traz pré-estabelecidas todas as nossas preferências – as cores, texturas, aromas, formas, sons, toques, etc., que mais gostaremos, trazendo pronto até a forma do rosto, a cor da pele, a voz, etc., das pessoas que amaremos e que mais amaremos, então teremos mais afinidade com as combinações que mais se enquadrarem nesse tipo preestabelecido, por isso nossa tendência é de nossos amigos e amados parecem-se de uma ou de outra forma conosco ou com nossos parentes. Quanto a música, por exemplo, Beethoven, tinha uma melodia muito familiar em sua mente desde pequeno que parecia sonorizar suas aventuras mais perigosas e ela somente se tornou realidade para as outras pessoas quando ele compôs a Nona Sinfonia, quando já era velho.

Portanto, a cultura genética que trazemos nos genes, a cultura familiar que vivenciamos, a cultura externa que absorvemos, sendo que parte dela nos é familiar, pois corresponde as escolhas de nossos pais e as nossas próprias quanto ao ambiente e as pessoas, e escolhem-se sempre mais aqueles que a nós se assemelham, – tudo isso compõe o que gostaremos naturalmente e ou o que passaremos a gostar após conhecer, selecionar e conformar com as preferências pré-estabelecidas em nosso caráter. A algumas dessas informações, as que nos são estranhas, nos adaptaremos com vistas em conformar-nos com o ambiente e ao grupo estranho, mas que nos parece bacana, todavia, muitas delas nos parecerão sempre estranhas por mais que com elas convivamos, ao passo que outras nos parecerão muito familiar e íntimas, mesmo no primeiro contato. Assim também será com as músicas, as comidas, os aromas e os sons, bem como com as paisagens ambientais, as imagens das pessoas, dos carros, da arquitetura, etc., e as palavras. Por isso temos mais afinidades naturais com uns e menos com outros. Todavia, não somos obrigados a ter como limite nossa concepção natural e inconsciente do que é bom, podemos conhecer a tudo e todos, retendo e aprendendo a gostar somente do que é de fato bom.