Ai que saudades de minha infância...

Ah, que saudades que eu tenho da minha terra - do lar, doce lar. Da minha mãe, meu pai, e minha querida irmã... meus tios, meus avós tão doces, queridos, sempre me oferecendo um doce, um ‘realzinho”, um carinho, um chamego.

Que saudades dos meus primos, nossa! Quantas aventuras, quantas “coças” com galhos de goiabeira, devido à tantas artes. Como apanhamos! Lembro-me de ter ateado fogo numa grande loja, por brincar com fósforos no depósito de caixas da mesma. Após o início do incêndio, corri com minha irmã menor para debaixo da cama da minha mãe, sob o risco do fogo alastrar-se para nossa casa, e consumir-nos ali debaixo... minha mãe brigou muito! Ainda me lembro, parece que foi ontem! Hoje, é até engraçado!

Que saudades, imensas, dos primeiros amores. Da minha prima (que tempo bom!), das amigas da minha irmã... quantas aventuras... das paqueras na praça da cidade de interior, dos tantos foras (foram muitos!). Que tempo bom! Não volta mais! Que saudades da música dos anos 80! Só sabe quem viveu, quem sentiu, só sabe quem esteve lá. Pena que não volta mais...

Sinto saudades de andar e correr pela rua, descalço, feito ‘bicho do mato’, sem preocupações, sem medo, numa cidade sem assaltantes, sem traficantes, sem seqüestros, sem trânsitos intensos, e com mais responsabilidade ao volante. Que saudades de um povo mais civilizado... que saudades do meu tempo de criança. Que saudades do tempo do “eu sou criança, não trabalho.” Hoje, entendo todo sacrifício de meus pais, todos os nãos, todas as chineladas, muito bem dadas, por sinal. Hoje, sou um homem que jamais trocaria a educação que tive, pela de hoje em dia, onde as crianças são birrentas, gritam e desrespeitam os pais, e são criadas em frente à um aparelho televisor, ou ‘navegando’ pela internet.

Lembro-me, que, no meu tempo, se eu dissesse porque à qualquer ordem de meu pai, já era motivo para uma olhada fulminante, que já me fazia lembrar a sola de um chinelo, ou um cinto de couro. O destino de ambos seria meu suave lombo, caso não obedecesse. Hoje, sou o homem que sou, com uma cultura riquíssima, dominando mais de um idioma, educado, formado, independente, estável, esforçado, gentil, nobre, fiel aos meus princípios, e devo tudo isso à um homem que só cursou até a quarta série de ensino fundamental. Que saudades do meu pai, minha mãe, minha irmã... que saudades dos amigos de infância... que saudades da minha terra!

Hoje, vivo num mundo que crianças não podem mais correr pelas ruas, sem medo de serem raptadas, violentadas. Temo, por vezes, sair de casa, pois não sei se volto com vida, ou se voltarei sem meu relógio, celular, carteira, dinheiro...

Hoje, vejo um filho gritar e desaforar a mãe, porque não queria entrar num ônibus, por estar lotado, sem lugares para sentar. A mãe, cala-se perante o garoto, sob olhares dos expectadores do transporte público, e sob meu olhar muito reprovador. Defeitos de uma educação sem imposição de limites. Se, quando garoto, tivessem sido impostos limites, e criado o respeito como elo entre ambos, e, se sempre que necessário, tivesse sido usada a correção com uma palmada, ao invés do moderno: _ Você vai ficar uma semana sem comer pizza, a sobremesa e sem computador por dois dias. A situação seria outra.

A marginalidade cresceu, mesmo entre a dita classe média-alta! Alguns dos mais horrendos crimes são cometidos por jovens com excelente condição financeira. Jovens que sempre tiveram tudo, mas, jamais tiveram uma educação real, dos pais! Eu queria alugar meu pai para criar esses jovens, ditos ‘play boys’ de hoje em dia! Cada ato errado, seria um belo repreender com o olhar, severo, mas cheio de amor! Cada desrespeito, uma palmada, daquela mão grossa, de trabalhar na roça, mas, que sempre soube acariciar, e dar amor. Cada palavra feia, ou resposta mal dada, um belo e cheio tapa na boca! Isso me aborrecia, mas, tenham certeza, nunca mais eu voltava a repetir tal afronta. Assim fui educado! Apanhei! Muito! Não morri, nunca quebrei um braço, ou uma perna... não tenho cicatrizes das surras que levei de meu pai. Nunca o odiei por ter me batido.

Hoje, tenho meu pai como meu herói da vida adulta, assim como o foi quando eu era criança! Meu pai é para mim, um exemplo de homem íntegro e leal que quero ser, e continuar sendo! Alerto-lhes, educarei meus filhos da mesma forma como fui criado!

Que saudades que eu tenho, de estar com meus queridos, todos os dias! Como sinto falta de uma conversa de “homem para homem” com meu pai, na arejada varanda de nossa casa. Que saudades, dos doces de minha avó, do dinheirinho do meu avô, das garotinhas que sempre tinham um beijinho pra oferecer, ou um “algo mais” (entendam como quiserem...). Que saudades das algazarras com meus primos! Que saudades de apanhar de meu pai, depois receber o carinho da mamãe, escondido dele, claro! Que saudades dos anos 80!

Que saudades da escola, dos colegas, da professora linda! Que saudades da tão sonhada hora do recreio! Tirando a hora dos desenhos animados, talvez, a melhor hora do dia todinho! Que saudades do Jáspion, Jiraya, e tantos outros... que saudades...

Que doce infância! Hoje, as crianças nem sabem o que são canções de roda, girar um pião, pular corda, pular carniça, carrinhos de rolimã... nossa que lista eu poderia criar aqui! Quantas saudades... que tempo bom! Pena que não volta mais...

Que saudades de meu pai, minha mãe e minha querida irmã... que saudades da minha terra... que saudades de todos... que saudades de tudo!

Que saudades de mim... naquele tempo... na cidadezinha de interior... que saudades!

jony marcos martins, 24/01/2010

Jony Marcos Martins
Enviado por Jony Marcos Martins em 24/01/2010
Reeditado em 26/01/2010
Código do texto: T2048374
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