VIDA EM OUTRA VIDA
A única certeza
É a incerteza do tempo
Nesta noite calada
Escuto vozes
Mas como pode ser?
Pergunto-me
Mas penso que o tempo seja propício
Sinto a calmaria das árvores sob o vento
Como se ele chegasse e acariciasse suas folhas
Vem de um burburinho sem fim
No começo acho que nada escutava
Ou se escutava não me atentava
As vozes foram chegando
Como aquele que vem de longe
Já sem pressa pelo cansaço
Agora tudo é silêncio
Alguns dizem paz
Mas pobre deles
Que não escutam o fervilhar de minha alma
Também pensei que a porta
Se fechasse
Mas hoje digo com certeza
Ela mal se abriu
Tenho todo o tempo
Do mundo para pensar
Verdade é tamanha
Que já creio
Como alguns pensadores
Que o tempo não é mera marcação
Talvez por ele trafeguem
Quiçá nossos pensamentos
De tão imponderável
Que não damos conta
Que é matéria
Devo me preparar
Para quem sabe
Sair ao preparo de outrem mais adiante
Pensei ser o fim
E loucamente me deparo
Com o começo
Ouço alguém
Sinto um tremor
Agora uma voz
Lá lá ao longe
Creia-me ainda não era voz
Mas sim um murmúrio
Mas sei que finge procurar-me
Pois sabe exatamente onde estou
Eu devo ir
Não sabes quanto me pesa
A despedida de mim mesmo
Mas é preciso seguir
E assim despeço-me
E sigo
Para o nada
Para o tudo