Quanto tempo?
O tempo é cruel. Apoia-se no instante, num milésimo de segundo e nada mais. Ponto. Caminha em seu fluxo contínuo invariável, dando bom dia a quem chega e um adeus a quem vai. Não mostra sua face, não revela seus segredos, não tem compaixão. O tempo é cruel, pois não escolhe suas vítimas, não distribui senhas para atendimento nos guichês da justiça. O tempo tem um temperamento bipolar: felicidade plena num instante, no outro profunda tristeza, assim, sem que alguém perceba. O tempo usa sapatos de veludo, vem de mansinho, sem fazer estardalhaço, e, de repente, recebemos seu adeus, sem que possamos nos despedir dele. Num instante ele nos coloca à margem, para que outrem assuma nosso espaço nesse universo de quatro dimensões, dimensionado, sobretudo, pelo tempo.
Enquanto o tempo é tempo, ninguém pode colocá-lo em xeque (a não ser que daqui algum tempo as coisas se arranjem de maneira atemporal)