A maior aventura do homem moderno
Segundo diz, Mário Luiz Cristino, um amigo filósofo, pós-contemporâneo de Nietzsche, que nos dias de hoje é cada vez maior o número de pessoas que sofrem de uma terrível sensação de vazio e tédio, como se estivesse à espera de algo que nunca acontece, como em "O deserto dos Tártaros". Literatura, cinema, espetáculos esportivos, agitações políticas podem distrai-las por instante, mas, tão logo se encontram diante do espelho retornam ao deserto de suas próprias vidas.
A única aventura ainda que vale a pena para homem moderno está dentro do encastelamento dos conceitos que estruturam o reino interior de sua psique. Com uma idéia vaga e indefinida deste conceito, algumas pessoas se voltam para ioga e outras práticas orientais, que não chegam a oferecer uma experiência genuinamente nova, uma vez que são velhas conhecidas dos hindus e dos tibetanos. Por outro lado, quando ultrapassamos a fronteira do corpo físico, seja por meditação ou por um esforço físico muito grande, uma nova e genuína a aventura se desenrola no “castelo das conceituações” . É quando o homem encontra o “ont(o)”, tornando-se o ser ontológico ou o “SER-PARA-SI”. Neste momento não corremos mais pelas ruas de asfalto e sim pelas avenidas de nossos espíritos. Então quando realizamos essa aventura espiritual, fica muito difícil retornar ao estado anterior porque nesse estado experimentamos um néctar que não se encontra no mundo das formas. Daí o porquê de quando se adota o caminho da espiritualidade todas as outras atividades materiais passam a ter uma importância menor. Assim a partir do avanço neste campo, ou seja, quando escolhemos o caminho da transcendência: deixamos de lado os valores relativos e passamos a correr rumo àqueles valores verdadeiramente absoluto, que certamente nortearam toda a nossa existência perceptiva em estado de consciência. Por outro, se o transcendentalista aspirante fracassa então ele aparentemente perde ambos os caminhos: em outra palavra, ele nem pode gozar a fortuna material e nem néctar da transcendência.
Particularmente, acredito que não, pois aquele que se desvia do caminho da transcendência não fenece como uma nuvem fendida passando a não ocupar lugar nenhum no espaço, uma vez que estava ocupado em atividades auspiciosas, portanto não se encontra com a destruição nem neste mundo nem no mundo espiritual; uma pessoa que está ocupada em atividades no castelo d´alma encontra-se em paz e tem uma disposição inata para o bem, e nunca é desta forma dominada pelo mal.
De outra forma, quando alguém realiza uma atividade física normal, leva seu organismo a uma reação em cadeia que proporciona modificações metabólicas de alto nível, produzindo substâncias que estimulam e serenam o seu espírito, que proporciona sensações especiais de plenitude. Essas modificações sempre foram importantes para um nível espiritual elevado, mas hoje em função de uma série de situações que nos jogam para fora de nosso mundo interior essas atividades ganham um valor especial. Tornando-se essa prática uma importante fonte de canalização de energia, que de outra sorte numa sociedade capitalista como a nossa é considerada supérflua, porém com passar do tempo acabamos aprendendo que o desfrutar desta energia é tão importante quanto ao ar que respiramos. Na verdade, o caminho da felicidade é mais fácil de trilhar do que imaginamos. Basta contemplar mais, sentar na grama, chutar areia da praia, namorar mais, ouvir mais música, coisas simples que, absolutamente, não custam quase nada e que também não são difíceis de fazer.
Lembremos que os pequenos trabalhos realizados para o sustento da existência, que se suportam por muito tempo representam muitas vezes um esforço, uma paciência, uma utilidade entre os maiores. As provas implicam no trabalho lento de assimilação; a construção do espírito tem de ser executada em cada minúcia; a vida é toda vivida momento a momento, a cada instante há um ato e um fato que se liga à eternidade... “aquilo” que não é nascido conosco mais que está em nós de forma definitiva incendiando nossos corações!!!
(Fábio Omena)