Utopia
Vejo a utopia brincar entre as mãos de uma criança na beira da
praia. Observo aquelas pequeninas mãos que tentam reter um
punhado de água ao modelar seu castelo de areia. A criança enche
suas mãos de água, mas tão logo pensa ter dela se apossado,
percebe-a escorrer entre seus dedinhos e assim que cai na areia,
absorvida rapidamente, a água some na areia deixando apenas
molhadas suas mãos. Porém, a criança não desiste. Incessantemente
insiste em buscar outro e mais outro punhado de água no mar para
construir seu castelo.
Penso que a utopia serve para molhar as mãos, ainda que por um
breve instante, para depois, no desejo de reter um punhado do mar
entre as mãos e construir castelos de areia, persegui-la pela vida a
fora.