SOB O DOMÍNIO DA PENA

Um livro sagrado, para a maioria e, sem dúvida, o mais bem elaborado na história da humanidade, a Bíblia traça leis e tratados; conceitos de Deus e de condutas, desde a familia à que se atribui a sociedade dita cristã. Sem contar de milagres como o da ressurreição, da multiplicação dos pães, dentre outros. Para mim tudo isso não passa de fábulas, metáforas.

É incerto, desmedido, incompreensivo, desonesto, irreal, um mito covarde e vago. Somos forçados a conviver com tudo isso, uma junção de palavras que nos tornam escravos, seguidores fieis desses ensinamentos, pra não dizer adestramento. Para que obedecêssemos, emudecêssemos, ficássemos cegos diante da verdade, dos fatos e fôssemos covardemente comprados ou vendidos conforme o seu julgamento.

Foram precisos poucos homens, de visão política, filosófica, estrategista, ditadora, lunática, entre outros. Esse pequeno grupo se encontrou, compreendeu a evolução humana, observou suas fraquezas, carências e a necessidade de esperança e fé. E assim se fez “Deus”, o maior dentre todos os deuses, que a mente pode criar. O criador de todas as coisas, o supremo, adorado, conservador, impaciente, egoísta, temido...

Estes mesmos homens criaram o palco, para a peça que escreveram “O Teatro da vida Humana com o Divino”. Contudo, tudo que é bom traz, em si, o mal: Lúcifer, o diabo da natureza humana e os seus demônios, que os mesmos observadores viram nascer das mãos, do olhar, da face, dos gestos e ações decorrentes desta evolução. Implantou-se o pecado e suas punições severas para aqueles que o cometesse, se fugisse as regras proscritas por estes homens e, sem salvação, suas almas estariam perdidas.

O tempo passara e essa forma bárbara e harmoniosa de dominar a mente dos que se autodenominam pensadores e dos que são incapazes de pensar por si só, dá lugar a outros homens de visão e seus templos. Mas, como posso condená-los sem dar-lhes glórias? E, acima de tudo, como não admirá-los como seres superiores que viram na humanidade seus acertos, erros, virtudes e maldades, e souberam dominar-lhes sem guerrear, sem sujar as mãos de sangue, apenas de tinta sobre papiros e colocaram-nos sob o domínio da pena, a favor de sua própria ignorância?

E deu-se o Livro Sagrado, bem elaborado em suas 1637 páginas, de escrita complexa e simples ao olhar atento, em códigos para que outros como eles obtivesse esse poder. Da criação até o final dos tempos, impregna-se em nossas mentes, fazendo-nos buscar essa tal salvação e adorando a tudo que é invisível, idolatrando homens como nós, santificando-os e imortalizando-os.

Por esse Deus supremo e absoluto, matamos, morremos, roubamos, em nome desse sagrado coração, conjuramos o mal para aqueles que não nos segue, por esse cálice bebemos do sangue dos nossos que sem nos pedir segue outra doutrina, mas que leva ao mesmo ser e as mesmas mentiras e verdades. Nascemos vitima deste infortúnio, escravizados, surrados e acorrentados a tantas verdades nunca divinas e, sim, humanas.

Posso dizer-lhes, estes homens são deuses, pois souberam com palavras dominar o mundo e continuaram no domínio por tanto séculos, vivenciando esse eterno conflito de existência sobre o que é certo e o que é errado. Entre verdades e mentiras, ficamos loucos ou, muitas vezes, céticos, trazendo inconseqüências de atos. Sem saída alguma, mas de certo para um vazio que perpetua tantas perguntas sem respostas e, quando encontramos respostas, vem a incerteza de onde viemos, por onde devemos trilhar ou no que acreditar.

É um circulo vicioso e fechado, onde damos voltas e mais voltas, parando sempre no inicio, voltando a sermos dominados por estes homens, sábios arquitetos das palavras, que nos deu uma verdade, dela nos fez ver as mentiras, nos confundindo e mostrando-nos uma saída que se estende a um único caminho, o de sermos seus seguidores, dominados pela própria natureza.

Osvaldo Rocha

Osvaldo Rocha Jr
Enviado por Osvaldo Rocha Jr em 03/01/2010
Reeditado em 05/11/2010
Código do texto: T2008319
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