Realidade realmente Subjetiva
Hoje a percepção de que o mundo é real – e, portanto, palpável – foi-me subtraída pela presença elementar do silêncio. Não apenas o silêncio físico, que consiste na ausência da propagação de comprimentos de onda através do espaço-tempo, mas, sobretudo, o silêncio mental. A realidade é barulhenta, perturbadora, irritante e deveras inacessível. A subjetividade é silenciosa, tranqüilizadora, confortante e deveras acessível.
Fazer sentido faz cada vez menos sentido no mundo real, onde, sem sentido, caminhamos para algum sentido que nos foi indicado como ideal para que nossas vidas façam sentido. No mundo real, o silêncio é inimigo, denota incompetência, desprovimento de capacidade cognitiva para transpor a barreira da comunicação, a divisa entre o Sapiens e o Neandertal. No mundo real, o barulho é progresso, a perturbação é sucesso e a irritabilidade... Bem, a irritabilidade é stress – proveniente do progresso e do sucesso – mas que se pode sanar com realidade virtual (barulhenta perturbadora e irritante). O mundo real é realmente fascinante – até demais. Tanto que o torna improvável, demasiado fantasioso para os adeptos do livre pensamento. A realidade é dura para com estes, a realidade se expressa na imagem da intolerância, do desprezo e, por fim, da indiferença a estes subversivos que vivem a tangenciar a linha da realidade puramente em si. Caminhar alinhado com uma linha realmente desalinhada produz comportamentos sublinhares, e, portanto, condenados à marginalidade real. Real. Do Rei. Rei, Real, Reinado. Súditos dessa Realidade devem se submeter aos caprichos reais estabelecidos pura e tão somente pela Realeza Realidade. Portanto, seguir alinhado com aquilo que o Rei Realidade induz é realmente respeitável; do contrário, lancemos os traidores ao mar (do esquecimento, por assim dizer).
A subjetividade silencia a realidade e torna eloqüente a liberdade. O subjetivo não requer caprichos arbitrários alinhados com o sentido ideal, idealizado por convenção. O subjetivo não induz a tomada de decisões superficiais. O subjetivo, ao contrário, privilegia o silêncio em todas suas formas e traços; o silêncio permite pensar. O pensar permite concluir que pensar produz idéias reais absolutistas, e, portanto, deve-se tomar cuidado com o pensar desvairadamente. A concretização do abstrato, por outro lado, percorre inúmeros caminhos, linhas, sentidos, uma vez que a subjetividade é sinônimo de liberdade – e a liberdade corrobora o livre pensar. A realidade subjetiva é produzida no silêncio do pensar e no pensar em silêncio, dando sentido para que a multiplicidade sensorial abarque a todos no bojo da compreensão de que cada um possui sua própria realidade, e que a partir das intersecções do pensar em diferentes escalas subjetivas, possa-se produzir a realidade inversamente proporcional à Realidade: silenciosa, tranqüilizadora e confortante