(Singela menssagem de fim de Ano): nós humanos confuindo com a Lei
Nós humanos confuindo com a Lei
A experiência indica que a Lei sempre fora mais forte que toda esperança de liberdade. Mas qual será esse conceito de liberdade? Obviamente o metafísico, ou seja, do qual se imagina haver uma substância que assegure sua existência real, e se a liberdade for mesmo meramente uma ideia, um ideal, um modelo que jamais se realizará no mundo dos vivos, é mesmo uma bobagem contrapor algo irrealizável à inextirpável realização da Lei. Jamais nos livraremos desse instrumento cirúrgico que nos toca a alma com precisão, pois, a cada instante de vida do pensamento: uma instância da Lei. Ouvimos diariamente a voz da Lei, em casa, na escola, na rua, na igreja, no trabalho, por toda a parte. Sem exagero, a Lei é o que somos, nos tornamos filhos e pais que expressam a Lei. A paz dependerá do reconhecimento honesto de que a Lei possibilita a justiça. Mas a paz e a justiça também não são da esfera da metafísica? O que existe é a Lei, ou melhor, existe enquanto efeitos inextirpáveis, intrínseco à vida humana. A felicidade também pode ser entendida enquanto efeito, e dependerá do relacionamento interno e externo com a Lei e suas expressões sociais. Será possível resistir à Lei, resistir ao complexo de culturas que nos moldou ao longo da história da humanidade? Uma coisa pode ser certa: agir com resistência pelos moldes tradicionais é inútil ao desejo pacífico, desse modo o resultado sempre foi traduzido em guerra e muito sangue e nenhuma integridade, nem do lado vencedor, nem do vencido. Ah é inútil combater as ferramentas históricas de opressão se a fragilidade humana anda a se entregar em manto de resignação. É inútil lutar contra a Lei, toda essa vontade de contrariedade é uma ilusão que apenas machuca a frágil vida humana, é inútil agir com resistência seguindo os moldes tradicionais, ou seja, praticando força contrária, porque esse tipo de força incita à formação da guerra, é força agindo sempre contra o outro, quando não contra si mesmo; é preciso sim, cada ser humano, construir seu modelo de resistência, porque, é possível até mesmo resistir na forma de invisibilidade. É sim. Resistência sutil, aperfeiçoando a maneira de pensar e agir. A lei será sempre mais forte que toda esperança de liberdade, mas isso não implica ausência de liberdade. Jamais. A liberdade pode emergir com o entendimento que se conqiuista perante a Lei, compreendendo suas possíveis instâncias e seus inesgotáveis efeitos. Dialogar com tais efeitos na busca de um bem comum pode não ter mais existência que a liberdade enquanto objeto da metafísica, de felicidade nesse mesmo campo teórico, entretanto, é um caminho indispensável a ser seguido e perseguido com toda força vital, com toda coragem e determinação, sem nunca duvidar de sua possibilidade de existência. É preciso olhar e ver, sentir e absorver, gritar, porém, sempre em aparente sintonia com as formas de poderes e práticas de controle das quais se centram toda sociedade. A vida em sociedade pode sim ganhar ares de leveza, é preciso para tanto, saber transformar a frustração em força, o sofrimento em prazer, os deveres e as obrigações em necessidades prementes à vida. É preciso sabedoria para cumprir os deveres que a sociedade impõe sem que essa prática necessariamente implique em sofrimento, embora não possa se tornar o mesmo tipo de prazer que o sexo e a arte tende a proporcionar ao humano. Mas se pode ainda falar em prazer quando o dever é bem cumprido, o prazer que nasce da ausência de certa angústia que insiste em estar presente a cada erro moral, uma vez que nenhuma pessoa além da própria lei está coagindo o indivíduo para determinar o fim desejado pela e para a coletividade: a paz (ou, a submissão de muitos, pelas mentes de minorias obssecadas por controlar vidas). Reduzir as cobranças externas, da polícia, das repartições públicas em geral, do governo, baseado em educação no sentido forte da palavra, ou seja, aquela em que o indivíduo possua sabedoria para reduzir a ação das instituições de controle da vida a mero entendimento com a Lei que reside em seu interior, será sim, sempre! um bom motivo para continuar vivendo. Que todos possam refletir e buscar a melhor maneira de resistir aos mecanismos politicos de controle do indivíduo sem perder a vontade de viver em paz, sem tomar por princípio a necessidade de controlar os outros como uma forma inconsciente de se vingar do complexo cultural de controle que lhe oprime, e assim poder curtir um tanto possível de felicidade nesta vida!
Feliz Vida, feliz natal!