Reflexões de uma ventania...
Hoje parei e contemplei as aves que voam contra o vento e planavam no ar. Olhei e observei as revoadas desconexas que se avolumavam diante da ventania e tentavam seguir rumo ao horizonte no frenesi habitual daqueles que se atiram rumo ao desconhecido. Olhe e observei que a brisa mesmo forte não era obstáculo bastante para desanimá-las dessa empreitada.
Pude perceber também que o crepúsculo era o objetivo maior daqueles pássaros. O horizonte carmesim e rubro instigava a reflexão sobre o eterno ciclo que é a vida e a trajetória que seguimos nela.
Pude perceber que tantos erros e acertos são e sempre serão cíclicos apenas pelo desanimar perene da falta de mansuetude para entendermos profundamente o significado das coisas. Erros e acertos são partes dos entremeios que existem no decurso do nascente ou poente. São conseqüências de nossas próprias escolhas, muitas vezes inclinadas pela falta de reflexão necessária, pelo entusiasmo exagerado diante das expectativas, pela frugalidade diante do divino.
Percebia que as aves que rasgavam o céu como flechas vivas sem o esmorecer dos obstáculos me ensinavam muito mais do que podia imaginar... Pude reconhecer que a aparente desconexão diante dos objetivos e das dificuldades apresentadas pela ventania não era, na realidade, obstáculo algum. Era justamente a propulsão para que planassem cada vez mais alto e fizessem suas evoluções aéreas para seguir sempre em direção ao horizonte.
Que inveja tenho de vocês – esse foi meu brado. A liberdade de suas asas e de suas revoadas é expressão mais pura e a resposta mais fiel sobre todos os escombros e desafios que o vento e a vida lhes apresentam. Tenazes ao extremo, pude perceber que as estas aves são a utopia que devo almejar e a prudência que devo perseguir. Elas não voam apenas. As aves que percebi hoje são as mensageiras do porvir que havia esquecido. São as reflexões de uma ventania que sopra contra meus desânimos, minhas falhas, minhas decepções... É o refletir de minha trajetória desconexa e canhestra, cheia de hiatos de alegrias e tristezas, muitas vezes resultado explicito de minha própria ansiedade e puerilidade acerca da vida e seus caminhos...
O horizonte ainda está rubro em seu arrebol... Que minhas asas sejam iguais aos das aves que vi hoje e que não esmoreçam diante dos desafios das ventanias futuras deste porvir ainda não escrito. Assim seja.
Ad majora natus