Solilóquio
Muitos dizem que a faculdade lapida o caráter do homem e o intumesce de conhecimento e sapiência. Muitos pensam que seus cursos bastam e resumem tudo que se faz necessário para fazer o mundo ser o que ela deveria, pura falácia de pseudo idealistas. Crer que uma mera ciência é capaz de englobar tudo e explicar tudo, de acordo com o campo que ela atue, não passa de vontade que nunca será realizado. O mundo é o conjunto de todas as ciências, e somente a união de todas elas pode explicar o funcionamento do todo.
Minha principal crítica contras as faculdades está no fato de elas alienarem mais do que instruem, visto que elas resumem todo o pensamento e intelecto dos alunos em um único ponto, que depois será reduzido mais ainda, nas especializações, mestrados e doutorados da vida. Estamos na era da especialização, e também da alienação. É comum um advogado civilista não ter a mínima noção de direito trabalhista, ou um médico que faz extração de dentes não ter idéia de como fazer limpeza, mesmo que em suas faculdades um esboço geral ter sido dado. Neste mundo quem menos sabe mais é remunerado, pois como foi dito é isto que as faculdades fazem e os cursos parafacultate complementam.
Já criticavam os socialistas sobre a sociedade fabril onde cada trabalhador apenas participava de uma simples etapa da produção, limitando-se a ela, e nada sabendo das demais, talvez isto tenha sido cultivado com o fim de mais fácil trocar uma “peça” que desempenhe um único papel do que uma que realize vários, assim como no xadrez onde um peão perdido não faz falta, visto existirem vários outros que possam substituí-lo, o mesmo não acontece com os bispos, torres e com a rainha.
Como eu disse em outros textos, a faculdade deve acima de tudo ajudar na lapidação do pensamento crítico, visto que sem isto não há um por que de pensarmos, e sendo assim seríamos meros autômatos que apenas dizem sim a tudo que se é pedido, sendo como o soldado que nunca discorda do que seus "superiores" dizem, podendo até perder a vida com estes atos, e pensar que fizeram algo de grandioso com isto, não vejo como orgulho morrer por algo que não nos reconhece.
Certo dia quando eu estava falando com uma mulher que conheci na Espanha discutiamos sobre o pensar, o credo e coisas do tipo, no meio da conversa cheguei a uma conclusão ‘se temos uma mente pensante é para ser usada, se assim não o fosse não teríamos para que a ter, seria mero enfeite pendurado na janela esperando que um vento forte o leve’, não foi bem assim que pensei na hora, mas o sentido é o mesmo.
Fixar o pensamento e o conhecimento para um único ponto pode ser um grande problema, como ensina Descartes na sua obra O Método, todo proposição gera outra de sentido oposto, assim tudo que se propõe pode ser falso, então tendo vários pensamentos e se focando em vários pontos para obter os mais variados conhecimentos maior a chance de aprender algo que seja realmente verdadeiro, logicamente em alguns momentos da vida é mister nos focarmos boa parte do tempo em um único ponto para alcançarmos nossos desejos, mas é importante não esquecer que os desejos mudam, são como o doce que pouco tempo dura na boca, deixando algumas vezes os resquícios de seu sabor que também se esvai. É comuníssimo as pessoas sempre tentarem alcançar posições melhores nas escalas hierárquicas, poucos são os que não vem razão para isso e usam o tempo de outra forma, mas isto é questão de livre escolha e a mim não me compete entrar neste ponto.
Nossa mente é dinâmica e vivaz e para a mantermos assim precisamos exercitá-la, seja com diversificadas leituras, ou sempre analisando outras formas de pensar, ou tendo contato com outras culturas, ou sempre nos renovando, visto que se não fazermos isso acabamos matando nosso ser metamórfico e findamos nos reduzindo aos minerais, imutáveis por natureza e que nada mais conhecem do que o mundo microscópico de sua carapaça. É de caráter meramente subjetivo fazer esta escolha. A meu ver tudo aquilo que pede nosso tempo integral por mais de 5 anos finda sendo pernicioso, visto que neste ínterim nossos desejos podem mudar, podem surgir outras possibilidades que findam passando desapercebidas. Deixamos de viver ótimos momentos e de conhecer inúmeras coisas por nos prendermos a um único ponto, e é isto que as faculdades fazem, são claustros comunitários, onde tanto os carcereiros quanto os enclausurados se fecham na mesma cela.
Bem, estou cansado, quero dormir, e para não deixa este texto enfadonhos paro por aqui.
JP