Meditação
Para quem escreve um escritor?
Se fosse para ele mesmo faria um diário, e o esconderia na gaveta.
O escritor tem álibes _ a ficção, os personagens. Na ficção por mais que conte de si está revelando um outro.
Muitas vezes um escritor dá depoimentos não confessionais do que vive ou viveu. Impossível não ser assim, na literatura o campo de ilusões é a vida. Deixar pegadas é sempre um risco, mas viver não é estar em estado de risco?
Uma testemunha é uma presença de corpo e alma, um estar presente em algum lugar, com alguém, ou seja, os outros, imersa em acontecimento(s). Testemunhar se faz com os sentidos, sentimentos, sensações. É um perceber que por sua vez, implica tomar consciência da experiência vivida.
Acredito, no entanto, vivemos paradoxos, porque mesmo quando escrevemos ficção, oferecemos depoimentos e testemunhos nas entrelinhas.
Escrever para o outro é se deixar ver, se ocultando. O que se mostra é o que silencia, não o que é dito. Mas, principalmente, é encontrar sentido no ato de escrever.
Por outro lado, se escrever oferece memórias, e se a memória é da ordem da ficção, o escritor é feito de paradoxos, e é da ordem da ficção. O escritor é apenas um ser humano, e todos nós somos paradoxais e da ordem da ficção. E assim, as memórias são criadas.