Aquela que me acompanha...

Quem é você que corre por minha face?

Sou uma lágrima.

Uma lágrima? De onde vens?

De sua mãe dor

Que seja. Então não é bem-vinda. A que veio?

Vim lavar sua tristeza.

Lavar? Tristeza é algo que odeio, não há quê em lavar.

Vou lavá-la para longe.

Então te quero perto... mas é tão pequena.

E não o é a tristeza?

Me avassala como um gigante. Que pretendes, Uma Lágrima? És tão pequena e corre tão lentamente em direção a meus lábios. Que podes contra tamanho sentimento que foi tragado por minhas veias?

Menospreza-me por meu tamanho?

Menosprezo-te por achar que tão pequena partícula de minha exteriorização pense que possa carregar algum significado.

E não carregaria dor tamanha pequena partícula carregada?

[pensa]

Se derivas-te de minha angústia, que queres contra ela?

Foi tu que me chamaste.

Eu? Estava a corroer meu interior quando chegaste. Não és ti enviada de mãe dor?

Sim. E de pai medo.

Que medo tens?

Nenhum.

Então não o compreendes. Como pode ti, então, atender a um desejo de tal?

Porque tu compreendes. Venho da dor que te acaba, partícula da tua exteriorização, sou uno contigo.

Mas que podes sendo tão mais pequena que eu?

É que não tenho medo. E não é "amor" uma palavra tão mais curta que "umalágrima"?

Amor! Maldito seja quem toca em seu nome!

Não faz seis horas ponderava se haveria no mundo algo melhor.

Uma Lágrima, o que compreendes de amor?

Compreendo que amas quem está distante. Depende teu amor de presença física?

Está, com certeza, sete patamares acima disso.

E que te apetece de chorar por uma coisa dessas?

Se ela estivesse perto seria diferente...

Sim. Teria uma palavra a menos em seu vocabulário para amaldiçoar.

Que taxas de palavra? Taxas-te-se uma agora há pouco. Lave minha tristeza e parta!

Não. Vou ficar. Questionar como seu amor lhe trás dor, a desnecessidade da presença de quem amas trás angústias e uma tão pequena e calma - que não digas solitária - lágrima como eu que nasce no canto de seus olhos e morre no canto de seus lábios possa salgar tanto sua língua, gerar tanto conflito, carregar tanta compreensão e sentimento; mais que 12 mil verbetes.

Por que ainda falas? Estava bem ao me corroer e mascarar com um sorriso!

Porque o que te apetece de ter é medo! Não é filho único, mas também não és mais filho...é carregado pelos braços do medo de amar, que por sua vez é sustentado pelo desejo de ser amado.