Da boca dos apaixonados

Antes que a poeira assente, antes que as monumentais construções virem ruínas, eu vou deixar de ouvir:

Da boca dos enganadores, as palavras ocas;

Da boca dos simplórios, a vontade quase mística de parecer inteligente;

Da boca dos vaidosos, as facas afiadas que voam para ferir o que eles não entendem (os vaidosos tem medo);

Da boca dos apaixonados, o melado escuro, pegajoso e odorífico dos seus ais;

da boca dos que escarnecem, a zombaria imprópria.

Antes que os sóis se partam, que me partam os raios, me callo yo.

Se eu falar, pois que, nunca estou falando, o que sairá dessa minha boca, sempre tão calada?

Eu não sei.

Eu não sei!

Talvez voem dragões, talvez medusas...quem sabe?