Apenas mais um...
Cada momento torna-se mais difícil que o outro, cada dia, cada face, cada riso e cada lágrima, ultrapassar o inteligível parece tão distante quanto a origem de tudo. Será que valerá a pena sermos essa metamorfose? Realmente não sei responder, os pensamentos, crimes invisíveis, todo remórcio que devora as almas, são apenas mais uns, que sangram como uma rosa em pedaços. Tantas causas, e por, e somente por, amor às causas perdidas, hei de sofrer e lutar, entregar-me de peito aberto e resistir, até o último dilúvio de orvalho, há que haver sentimento, há que haver esperança e compaixão.
Tantas noites insalubres, mal dormidas e indigestamente recompostas, tantos nós deixados por eus, dores e dores dilacerantes, lágrimas de sangue jorrando de calcário e mármore, há de levar toda ilha de si. Como reviver as lembranças? Como continuar sem caminho? Cega-me os olhos, mas não retira-me, da mente, os pensamentos. “E o que é mais nobre para a alma?” Vivas para saberes ou pelos saberes há de viveres.
Dor pertinente entra pelos porões, alastra-se pelas ruas e avenidas que cruzam nosso esguio rio sombrio. O peso aumenta, não há alívio se não a fuga. Dias felizes há de chegarem, mas temos pressa de digerir fezes e monumentos que nos são arremessados aurículas abaixo. Para que caminhar, se a canção não se ouve mais? A última dança foi roubada, a última voz, calada, o último sopro, condensado em lama e revertido ao muco, o último instante de paz, se quer existiu. Acalma-te alma imprudente, tempos de ouro à ti virão, enquanto os vales são destruídos. Acalma-te ânsia pertinente, hei de lutar para que existas, hei de morrer por vossas mãos.
"Eu que falei sem pensar
Agora me arrependo roendo as unhas
Frágeis testemunhas
De um crime sem perdão
Mas eu falei nem pensar
Coração na mão
Como um refrão de um bolero
Eu fui sincero como não se pode ser"