Conceitos
Pela manhã, após fazer o habito que se tornou rotineiro para mim, pude, de súbito, entender a função dos conceitos e como eles se integram nas relações humanas. Como o ambiente se relaciona com os conceitos, como as pessoas assimilam e criam conceitos e como esses conceitos se petrificam.
Para primeiramente destrinchar a correnteza do assunto, vamos partir do significado do conceito. Acho que é a pior definição de conceito é a definição do leigo, aquele mesmo, que o define como palavra auto-explicativa. Pois digo, retruco, que os conceitos estendem além dos conceitos e de sua forma presa em si. Um conceito é algo que parte de percepções imperceptíveis e nasce antes mesmo de ter nascido a si próprio.
O que fazemos com os conceitos? Esse talvez seja o maior problema que pelo menos é intrigante ao meu ver. Problema porque as pessoas vivem à base dos conceitos, fixos no tempo, enraizados no espaço. Talvez não porque elas vivam com eles, porque são necessários quando não são, porém o modo como aplicam o conceito dele mesmo. Se eu perguntasse o que significa birulim, o que você me diria? Certamente não saberia e associaria essa palavra a outros conceitos dicionarizados na mente escrava da exatidão. Vivemos pressionados pelo o que é e deixa de ser. As coisas têm de ser para existir e tornar-se apta à vida. Se birulim não existir e não se associar, então não é palavra, não faz sentido à humanidade. Que me permita Antoine de Saint-Exupery citar sua célebre frase: O essencial é invisível aos olhos. É o doce impalpável mistério.
Se dizem que o instrumento que escrevo é lápis, digo que é a imaginação. Se dizem que escrevo com a mão, digo que é com a emoção. Inverto os papéis dos conceitos e sinto-me como um pássaro que voa em direção ao infinito batendo as asas com precisão. Sinto-me fora, ritmado como ondas sigmóides no espaço e isso agrada. Por isso ver os conceitos como eles realmente são me trazem algo que nem mesmo posso dizer que é a felicidade, já que isso é algo que foge de conceitos. Ainda não foram estabelecidos.
Os conceitos são orgânicos. Matéria enjaulada. Olharam um cão na rua meio desnudo e com olhos de ressaca, duas patas quebradas, fucinho escuro que só. Pronto, viram um cão. Desaparece o cão e o que sobra é então, enfim, um cão-conceito. Pois digo que vi um cão meio desnudo e com olhos de ressaca e mantenho-me com as não junções. Posso assim enxergar melhor a vida por trás dela mesma e projetar horizontes, portos do mundo.
É esta tal força de criatividade, é esta tal imaginação que permite enquadrar as coisas no seu tempo. O presente é evolutivo, é mãe do passado e do futuro. Os conceitos antes de mais nada estão no primeiro. Talvez seja essa a chave para abrirmos fechaduras da mente oculta.