E L A

Hoje eu tirei a noite para recordar... Sentado no sofá que um dia dividi com ela, deixei a mente viajar à toa, livre como um pássaro em um dia claro de verão.

As imagens foram chegando sem que eu tivesse controle algum sobre elas. Assisti como a um filme o dia que andamos de caiaque em um rio que deságua no mar em uma praia tranqüila a caminho de São Sebastião, ela estava feliz e sorria um sorriso lindo enquanto remava subindo a correnteza até a curva do rio mais acima; era um dia maravilhoso, não havia muitas nuvens no céu e uma brisa suave vinda do Oceano refrescava nossos corpos suados; nós conversávamos e riamos como dois adolescentes descobrindo uma nova aventura. Tudo estava perfeito!

Uma outra lembrança se aproximou virando a página da anterior. Revivi um dia especial onde fomos passear em um parque ao lado da estrada que nos levava para casa; nós dois sentados na grama verde ao lado de um Lago de águas azuladas olhando os patos que mergulhavam a procura de comida e ressurgiam alguns metros do local de onde, a pouco, haviam desaparecido.

(E a memória funcionando a todo vapor)

Agora são as férias do meio do ano: A mãe dela está jogando bolas de meia dentro de um aro enfeitado numa barraquinha de festa junina para ganhar uma lembrança qualquer. Na verdade eu acredito que o premio é o que menos importa, o que importa realmente são os momentos de descontração (tão poucos) que a mãe dela desfruta com imensa alegria. Ela, é claro, está ao seu lado, sendo feliz com a felicidade proporcionada àquela que um dia lhe deu a oportunidade de estar neste mundo e de desfrutar dele o que ele tem de melhor. Foi um dos momentos mais marcantes de minha vida, poder estar ali naquele momento como observador de cena tão linda. Alias, naquele dia ela estava linda!

Eu continuei ali, sentado no sofá, ouvindo uma coleção de cantos gregorianos, enquanto meu cérebro deliciava o corpo com lembranças tão nítidas e tão maravilhosas.

Nosso casamento foi o próximo passo; eu a via, eu a admirava, eu a endeusava enquanto ela caminhava, lentamente, até o altar que a esperava para um momento único. Seu semblante... puro magnetismo, atraia a atenção de todos.

Ela dançou a dança dos tempos, e todos dançaram com ela.

Ela bebeu da água da vida, e todos beberam com ela.

Ela era a pura felicidade, e todos foram felizes com ela.

Ela me encantou, como o faquir encanta a serpente, e eu me deixei encantar, e eu me deixei ficar, e aos poucos... aprendi a amar.

É por isso que hoje estou aqui, sentado nesse quarto escuro, com o tempo sendo apenas um coadjuvante, enquanto viajo ao passado para buscar meu combustível para mais um dia que se aproxima.

Meu combustível é o pensamento nela. Meu combustível é recordar meus momentos com ela. Meu combustível é ela.

Minha mente continua vagando, buscando imagens, palavras, sentidos, sentimentos... Minha mente continua vagando até eu me sentir sonolento e dormir.

E quando durmo. Ah! Que alegria... Sonho com ela.

marcos villa verde
Enviado por marcos villa verde em 06/11/2009
Código do texto: T1908385