DESTINO ALGO KAFKIANO

Creio não haja ser humano que, em algum momento de sua vida, mínimo que seja, não se tenha sentido personagem kafkiano, julgado e condenado, sem escapatória, por crime inacessível à lembrança nem à consciência. Assim me sinto, desde que nasci; já existia este destino no olhar acuado da menina de sete anos,no da adolescente de quatorze e de vinte e um, no da jovem mulher de vinte e oito e no daquela que, aos trinta e cinco vislumbrou, com alguma clareza já, a ré condenada, inapelavelmente, pelo crime de cuja ocorrência, ou não, jamais haverá de se lembrar.

Zuleika dos Reis

Na manhã de 4 de novembro de 2009.