O texto que nunca escrevi

O gole que eu nunca bebi

Pro céu que eu nunca cantei.

Os deuses que eu não endeusei.

Os anjos que eu já vi cair.

A marca sentido do outro

E são tão banais

Que não causam a pena.

E que for rotina

Tranque-me no espaço

Quero ver se há moinhos.

Um sino,

Toca.

Sempre no mesmo,

Horário.

Sempre com o mesmo,

Recado.

Nunca fui gado.

Mas, eles ainda,

Vão querer dizer,

Afirmar,

Que sou um,

Maltrapilho.

Que devo calar-me

Na hora que os sinos

Tocarem

E que devo respeitar

Aceitar.

Nunca duvidar dos seus,

Ensinamentos.

Mas eu era a ave

Daquele moinho

Voava por cima do gado

E via que embaixo da vida

Havia outra saída

Que fosse não aceitar

De cara e então concordar

Com algo que não sabe dizer

Que pensa, mas não,

Por você.

Que vive e não sabe o que é vida

Só vê alegria no que não lhe convêm.

Eu não sou daqui

Do lado dos animais,

Irracionais.

E é difícil explicar.

Que acho bem mais fácil

Não pensar,

Não há perguntas,

Não há questionamentos.

Não há verdade

Se ela não for

Desejada.

Não contento meu lamento

Com um pouco de sofrer.

Se for feito pra não ser

Que então seja irreal.

E me torne um mortal

Sem vontade de morrer

Sem o medo de esquecer

Que era ontem meu destino

E foi feito, feito pra nunca saber.

Que se a chave então virasse

E a porta se abrisse,

E os olhos quebrassem a barreira da visão

Estaria na inversão,

Uma nova complexidade.

Já fui o que não era

Para ser o que não queria.