QUANDO O PASSADO BATE À PORTA
QUANDO O PASSADO BATE À PORTA
Na vida experimentamos relacionamentos diversos: exercitamos a simpatia e a antipatia por figuras anônimas do dia-a-dia (o caixa do banco, a atendente da padaria, etc), convivemos (harmoniosamente ou não) com colegas de trabalho, fazemos amizades sinceras, cultivamos paixões platônicas, vivemos amores e desamores. Em nossa evolução como ser social, por vezes deixamos para trás situações mal resolvidas em virtude de nossa inexperiência de vida, de nossa imaturidade em lidar com o próximo. O preconceito, a intolerância e a incapacidade de resolver situações que envolvam sentimentos, deixam marcas profundas que tendem a nos acompanhar pelo resto da vida, revestidas por culpa, mágoa, decepção e até ódio mortal.
Às vezes surgem oportunidades de reaproximação, encontros inesperados (desejados ou não) em que podemos nos redimir ou perdoar o outro oficialmente, seja através de uma conversa franca ou de uma nova convivência que apague as antigas marcas. Como tudo na vida, isso tudo pode ser muito relativo... Aquilo que você interpretou como um mal que fez a alguém esse mesmo alguém pode ter achado que foi uma bênção, ou simplesmente uma forma (sofrida e necessária) de aprendizado. O chute que você levou e demorou tanto a se recuperar, te levando a engordar vinte quilos, pra quem te chutou só representou o encerramento de algo sem importância, um ritual de passagem.
A forma como cada um lida com seus fantasmas, exorcizando-os ou os guardando no fundo de um baú de ressentimentos ou esperanças é que traduz o quanto essa pessoa é leve ou pesada, pronta ou não para viver a vida em sua plenitude, sem amarras, sem medo de encontrar na próxima esquina um affair devidamente acompanhado do respectivo cônjuge, uma professora de infância que te humilhou, aquele colega de trabalho que roubou sua promoção e por aí vai. Para os que levam tudo isso numa boa, que não entram em parafuso com o passado, que têm a consciência limpa de que são meras marionetes do destino ou detentores de um karma, meus parabéns. Há até aqueles que passam uma borracha em tudo e viram melhores amigos, ou redescobrem o amor verdadeiro, livre de ranços e fortalecido pelo mútuo conhecimento da história de ambos. Alguns, viciados em adrenalina, teimam em manter duas realidades alternativas: o passado (o que poderia ter sido) e o presente (a incógnita) numa corda bamba de emoções sem rede de proteção, com inúmeras possibilidades de mortos e feridos. Outros querem apenas viver suas vidas, sem surpresas, sem memórias, sem sentimentos, numa rotina confortável de quem deseja não mais se arriscar. Cuidado com a esquina adiante.
(E.F.M.)
18/09/09