Experiência no México Sagrado

Experiências no México Sagrado

Abrir a consciência para além do mundo ocidental e de sua filosofia, hábitos, modos de conceber o mundo e os seres trouxe-me luz para algumas partes do meu ser que reviveram a memória da minha ancestralidade que ficaram escondidas nos porões da minha essência encobertas pela força da cultura onde nasci, do país onde vivo, da força do materialismo e da divisão entre corpo e mente.

México Sagrado me ligou sutilmente à sabedoria da união entre mim e a própria natureza que faz parte de todo humano e que vai se separando desde o nascimento até a morte afastando a conexão entre enxergar e ver, entre perceber e sentir, entre ouvir e sentir, entre tocar e perceber.

Os sentidos vão se brutalizando na sociedade que divide corpo e mente e que privilegia enxergar, raciocinar, se defender, criar estratégias na competitividade entre todos, onde o mais apto sobrevive. A minha fantasia é a de que fomos moldados para existir só um pouquinho, bem apertado, pulsando lentamente, enxergando só o necessário com lentes que regulam cores, diminuem horizontes, estreitam sensações....Só um pouquinho!

Despertar sutilmente dessas impressões calcificadas em nossa psique, no modo das emoções circularem, no jeito de olhar o mundo e as pessoas ampliou minha conexão com o mundo onde vivo.

Ao ter coragem para ver e não só enxergar, um mundo se abre sobre o palco da existência em função do descobrimento que há em nós sentidos adormecidos pela simplificação grosseira do que é existir que se entende por ter, possuir, competir, gozar, mostrar, ser superior a classes, pessoas, saberes, e tantas outras categorias semelhantes.

Ver e sentir nos traz, por exemplo, a consciência de que estamos tão afastados da nossa essência e que já não percebemos mais os nossos próprios ritmos que são semelhantes aos da natureza da terra da qual somos parte: contato com a força do corpo físico e dos movimentos necessários para manter tônus, lubrificação, transpiração, oxigenação, repouso. Os ritmos das estações do ano semelhantes às estações emocionais de alegria, tristeza, excitação, esperança, morte, renascimento, frio, calor, abatimento, renovação.

Não conseguimos com discernimento perceber a passagem dos ciclos de nascimento, infância, adolescência, maturidade, envelhecimento, morte, semelhante ao processo da semeadura de uma roseira, por exemplo: queremos já e para ontem – não dá tempo para acompanhar o processo.

E todas as coisas que não podemos entender? É preciso classificar ou rejeitar como improvável sem condições de classificação pelos métodos aceita pela ciência e lá se vão para o fundo de nós mesmos muitos saberes como o mistério que guardam as civilizações pré-ocidentais que preservavam a saúde do sagrado dentro do coração do homem. Sagrado? Mas o que é sagrado senão a conta bancária? O abraço do amigo sincero fica esperando pelo tempo que algum dia há de existir para ser recebido; a paz de um jantar entre amigos e família há de esperar pelas férias e as crianças de repente desapareceram e se transformaram em gente grande : forte por fora e frágil por dentro.

O sagrado guardado no coração de todo homem está em algum lugar para ser despertado, olhando, por exemplo, o nascer do sol que é semelhante à disposição de levantar, trabalhar com sentido, andar com sentido, comer com sentido, amar com sentido, pausar com sentido, pensar com sentido, elaborar com sentido, criar com sentido, semelhante ao sol que gera, cria, mantém e sustenta a vida.

O sol também se vai como sossego e descanso semelhante à morte amiga que nos renova após o ciclo que se acaba singularmente, de pessoa para pessoa, de idade para idade, de estação para estação.

No México Sagrado nas subidas das suas montanhas e mistérios pude reviver minhas subidas e mistérios, meus esforços, meus desalentos, minhas aflições, desventuras, conquistas, ilusões, verdades, mentiras, dores e mortes. Tudo isso é sagrado, depende do modo que se queira ver e não só enxergar.

Os homens contem em si a chave para despertar do sono da ilusão de que viver não é o que fazemos, ou seja, sobreviver, mas que nos é possível questionar o aprendido e condicionado e dar um passo além para prosseguir rumo a coragem de rever valores tão arraigados e não questionados, pois eles se transformam na segunda pele e só pelo despertamento de que posso mais do que os meus parcos valores me assinalam, abrem-se muitas estradas possíveis.

Estar aberto ao novo, à aprendizagem do novo é como respirar abundantemente após segundos de ausência de oxigênio.....a vida se renova e a esperança também re-significando a experiência de estar vivo frente a tantas e outras possibilidades nunca pensadas ou sequer imaginadas.

Tivemos encontros com os índios xamânicos curadores, psicólogos natos, respeitosos e com o coração cheio de amor e justiça nos ensinando fazer escolhas no caminhar pela vida com a abertura da consciência das limitações emocionais e dos encarceramentos que bloqueiam os caminhos da libertação.

Os desafios de trocar fraqueza e dependência emocional..... é um trabalho e tanto!!!!

Pelo desejo de reconhecimento, inclusão e pertencimento criamos situações em que se perde o que é nosso. As trocas equivocadas que fazemos para conseguir a sensação de sermos aceitos, amados, nos trazem anos e anos de dor, de mágoa, de ressentimento pelas buscas que nunca chegam. Os ensinamentos dos índios através dos ensinamentos toltecas nos aliviam a distância entre ter e ser.

Jeane Claudia Araújo Lobo psicoterapeuta holística : educadora somática existencial, psicodramatista.

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