A seca no sertão.
Em uma tarde, de um verão cruel, que vem secando as ultimas folhas que restam nas pequenas arvores, que vem tentando sobreviver à falta de água, a terra ardendo, de tão seca, e mesmo assim, o sol castiga sem piedade, lá pelas duas da tarde, é possível ver o vapor, que sai do solo, é tão quente, que essas horas não se vêem uma criação andando, estão todas, brigando pela sombra de algum galho seca que resta de pé, não se vê um inseto cruzar o terreno, está todos em suas tocas. O sol castiga, e tempo de seca, aqui, só se vê água de tardezinha, quando a pipa vem da cidade, trazer a nosso povoado, o que não acontece todo dia, e ainda assim, se sobrevive por aqui, as crianças brincam na sala, usando parte da ossada de animais, como carrinhos, são animais que não resistiram, a essa fase difícil, todos brincam… Bom, menos Luizinho, o mais velho, de apenas nove anos, ele fica na varanda, olhando o céu, e a cada hora que se passa ele pergunta:
- Mãe, aquela nuvem escurinha, vai trazer água para nos?
E sem a resposta que tanto queria ouvir, ele continua a olhar as nuvens, que os fortes ventos levam, de um lado para o outro, e muitas vezes, no decorrer do dia, ele repete a mesma pergunta, sem se dar conta, passa o dia inteiro olhando para o céu, é uma criança amável, não reclama da vida, apesar do sofrimento que passa, é esperançoso, esta sempre com um sorriso no rosto, tentando acalmar os irmãos, que muitas vezes chora de fome, e a cada nuvem carregada que surgem no céu, Luizinho se enche de esperança, com um brilho irradiante no olhar, mas o vento carrega a nuvem, e é possível perceber, a tristeza no olhar, que invade o coração e mesmo assim, ele continua com um sorriso, quando na verdade, sinto que ele quer chorar, e nesse momento, entoa uma canção, que ele mesmo inventou, ele diz que se cantar, o dia passará mais rápido, e o sofrimento será menor, então ele canta “nuvenzinha que ta lá no céu, trás água pra molhar nosso chão, trás água pra saciar a sede de meus irmãos, nuvenzinha trás água pra molhar nosso chão”. Do interior da casa, eu fico a repassar, um pano seco nas panelas, para tirar a poeira que o vento trás para dentro de casa, pois não há água pra lavar, com todo o cenário que vejo a minha volta, e sem poder fazer nada, apenas a esperar, uma lagrima desliza em meu rosto, no momento a única água que se encontra na casa, é a lagrima que desliza na minha face, já é tardinha, só amanhã a pipa vem, o melhor é dormi, para não sentir o sofrimento, coloco os três menores na cama, que ficam chorando até adormecer, e Luizinho lá fora, de pescoço esticado para o céu, parece conversar com Deus, me parece tão cansado, mas ao mesmo tempo, tão otimista, tem mais fé do que eu, o chamo pra cama, ele apenas me olha, e novamente olha o céu, que já escurece, minutos depois entra, e em poucos minutos, ele adormece, todos dormimos, e logo em seguido o dia amanhece, acordo com o claro que bate em meu rosto, a porta já esta aberta. É Luizinho que já se encontra lá fora, sentado em um toco no meio do terreno, e a seu lado uma pequena vasilha toda amassada, já esta a espera da pipa, que só ira chegar lá pelas dez da manha, fico por algum tempo a observá-lo, e pensando que naquele momento, muitas mães estariam acordando seus filhos, para tomar um delicioso café da manha, e eu fico na minha casa, em silencio para não acordar os pequenos, porque sei que acordaram com fome, e nada tenho para oferecer, Luizinho é criança, mas parece homem, já consegue entender, já faz mês que seu pai saiu para trabalhar, já deve voltar, em algumas horas a pipa chega, precisa ver Luizinho, não se cabe de contente, com uma vasilha na mão, não consegue esconder tanta felicidade, a pipa logo vai embora, e dessa vez, Luizinho senta com os irmãos e brinca, por alguns minutos. Passam se dez dias a fome é enorme, a única coisa que temos pra comer e folha de macaxeira cozida com sal, pois os pés de macaxeira ainda não têm batatas, e só uma refeição por dia. E finalmente, Luiz meu marido, o pai de meus filhos, esta de volta, de sua longa jornada, a procura de trabalho, pela felicidade de todos, teremos o que comer, pelo menos por mais alguns dias, e é dessa forma, que vivemos aqui no sertão, em tempo de seca, lutando para sobreviver dia após dia, na espera desse verão terminar… Eu mais uma vez, da minha janela, vejo o sorriso de meu filho, que vem chegando com suas vasilhas cheias de água, pois hoje é dia de a pipa passar, Luiz já de volta no mundo, a trabalho procurar, e eu, sem nada poder fazer, apenas rezo, rezamos para esses dias passar e o inverno logo chegar.
Daiane Garcia*eumesma
18 de Setembro de 2008