Caixas de Sonhos
As paredes observam. Sem seus quadros e relógios, apenas denunciam planos não concretizados. Tornam o quarto vazio uma caixa de memórias. E nos pacotes amontoados, meus pertences. Um livro. Uma carta. Um aviso que tudo, mais cedo ou mais tarde, se transforma. Dizer que seu antigo retrato está ali guardado seria mera poesia, pois o carrego na caminhada pela rua solitária ou na noite em que sonhar é melhor que dormir. Das cartas, apenas a memória de alguém que encontrava no papel em branco a confissão e em seus sonhos, declarações não escritas, tampouco feitas. E deste curioso ser e seus sonhos, aqui deixo uma parte atrás de uma porta ou no fundo daquele armário nunca aberto. O ser que carrego deseja transpor outras portas e descobrir, como aquele que encontra uma jóia perdida, um sorriso.
Ela continua ali. Em meus sonhos já é a musa: a dona de todas as declarações das quais não me lembro na manhã seguinte. Enquanto saio do quarto, deixo também meu sonho guardado, numa parede qualquer. Cruzo a porta para não mais manter todas as palavras em meu sono, pois ali não dizem mais nada. Dizem apenas que a dona, a razão delas, precisa ouvi-las. Uma vez apenas, numa tarde de flores alegres e sorrisos coloridos. E ali descubro que dentro das caixas cor de madeira havia mais que apenas uma carta. Dentro delas havia também aquele que, ajoelhado aos pés de sua amada, pretende reencontrar as palavras do sonho esquecido. Ali, naquele momento, estava de mudança. Pronto para tornar real o sonho que não será mais apenas meu