O Que é Felicidade?
"Que vem fazer a morte,
que é esta vida,
às sementes da vida eterna,
que são as almas?”
(Leonardo Coimbra, Oração)
Para startar o questionamento, convém refletirmos sobre o que seria Vida.
Sintetizando, Vida é o contrário de Morte (o óbvio ululante). Aliás, essa interpretação guarda sintonia com a Teoria dos Contrários(1) na qual Sócrates afirmava que tudo no mundo sensível tem o seu contrário: o Belo tem o seu contrário que é o Feio...
Em última análise, uma “coisa” nada mais é que o contrário de outra.
Partindo-se desse principio, Vida seria o oposto de Morte?
Também.
Não apenas o contrário, mas o contraste e o prosseguimento. Numa palavra, o sentido.
Para afirmarmos que um determinado objeto é de tonalidade escura mister se faz sobrepô-lo a um “pano de fundo” de cor clara (ou menos escura). Ou seja, é preciso fazer comparações ou contrastes para se destacar o elemento sob enfoque.
Diante dessas considerações preliminares, buscamos, assim, depreender que vida é o sentido, o desdobramento de morte.
Felicidade é, pois, a resposta, o estado de espírito de cada individuo manifestado no seu dia-a-dia, enquanto partícipe dos demais seres e elementos que co-habitam o universo, frente às diversas situações e nuances que se lhe dizem respeito. É o resultado do conjunto de suas expectativas, anseios e emoções construídas durante toda a sua existência neste Plano.
Isto posto, quando ele atinge a plenitude do saber passa a reagir com serenidade e sentimento de auto-realização, seja nos momentos de euforia ou de tristeza, haja vista que, estando alegre, “olha no fundo do seu coração e conclui que o que lhe deu tristeza é aquilo mesmo que ora lhe proporciona alegria”(2).
Pari passu, felicidade, sendo o contrário de sofrimento, infelicidade, aplica-lhes razão, justificando as causas da dor, das amarguras e, dualisticamente, do “bem-estar” igualmente provocado por esses sentimentos.
As dores e angústias do ser seriam sintomas do ego, sentindo-se ameaçado, desconfortável. Por isso devemos apreciá-las tanto quanto nos deleitamos com os nos-sos momentos de felicidade, pois, assim procedendo, paulatinamente deixaremos de “mimar” e de nos apegarmos tanto ao ego.
A partir do instante que passarmos a observar, compreender e malhar a dor estaremos nos distanciando mais dos caprichos do ego e crescendo em direção à felicidade, à essência...
Para melhor experienciarmos a felicidade e convivermos harmonicamente com o nosso self, imprescindível “abrirmos nossas mãos e simplesmente deixarmos tudo cair”(3), inclusive e notadamente a “nossa mente, para não mais fazermos dela a nossa morada”(3). Urge, pois, esvaziarmos a mente, através do concurso da meditação, dentre outros recursos ou técnicas.
Deixemo-nos “fluir com a vida, entregando-nos um pouco mais à corrente do rio divino”, como diz o meu querido amigo Jomar Morais(4).
1. O Fédon, de Platão (427 – 347 a.C.).
2. Do livro “O Profeta”, de Gibran Khalil Gibran.
3. Extraído do “O Livro de Ouro do ZEN”
4. Jomar é jornalista e editor especial da Editora Abril;
escritor, filósofo e profundo pesquisador dos temas
espiritualistas e transcendentais, do SAPIENS-Centro
de Estudos Filosóficos de Natal(RN).