Diálogo com "deus"...

Um dia desses acordei, em casa, e percebi que estava só. Não sei por que, mas a sensação de solidão, desta vez, não me agradou como de costume. Silêncio em minha casa é coisa rara. Mas, neste dia, tudo estava tão quieto quanto uma biblioteca vazia. “Ora!”, pensei. “Que mal há nisso?” Mas estava somente enganando a mim mesmo. A solidão, neste dia, estava me deixando incômodo!

Resolvi levantar, abrir a janela. Quando olhei para fora, percebi que minha vizinhança estava diferente. Só então notei que minha cama não era a mesma, e que meu quarto estava bem estranho. Eu estava sonhando! Ou, será que havia acordado de um sonho que eu achei ser real? Difícil dizer.

Nunca acreditei em deus, ou deuses. E, neste dia, resolvi ter companhia. Meus cães não estavam lá para me dar atenção! Então, chamei por deus, pensando: “se ele existe, há de me ouvir e me atender”. Eu estava enganado. Chamei três vezes, e ele não veio. Mas, lembrei que um amigo, que é crente, uma vez me disse: “um dia, deus aparecerá para ti, e tu não o verás, por falta de fé”. Foi então que resolvi acreditar de verdade, ter fé. Canalizei a minha força espiritual, e... Nada! Novamente eu chamei. E repeti o chamado, cada vez mais alto (não sei por que). E nada! Deus estava surdo, talvez.

Após uns minutos, eu já havia desistido. Fui andar pela “minha casa”. Não reconhecia quase nada. Mas tinha certeza que estava acordado. E aquela, obviamente, não era a minha casa; nem parecia familiar. Foi então que me deparei com um quadro negro. Olhei com atenção, e estava escrito algo nele. Estava escrito “DEUS”. Espantei-me! Eu sabia que não tinha escrito coisa alguma ali. Então, ouvi uma voz estranha e um tanto desagradável. Ela me disse: “Filho, chamaste por mim, e aqui estou”. Novamente espantado, perguntei: “Pai?”. Olhei para os lados, mas eu estava só! Foi nesse momento que percebi. “Quem” falava comigo era a palavra do quadro, “DEUS”.

De início me assustei, e questionei: “Porque demorou tanto? Já havia te chamado há bastante tempo!”. “Ele” me disse: “Demorei porque precisava que você viesse até o quadro, garoto. E você demorou a vir!”. “E porque precisava do quadro?”, indaguei. E a voz disse: “Porque sou o seu Deus, uma palavra. É isso que sou. Um nome, um termo exclusivamente humano. Não existo em lugar algum, exceto na imaginação de alguns, ou nos cadernos de outros. Estou escrito e sou pronunciado, o tempo todo. Mas, não passo de uma simples palavra.”

Quando “ele” terminou de dizer tudo isso, perguntei: “E como vou saber que você não é só um fruto da minha imaginação?”. E “deus” disse: “Certamente não saberás. Como sabe se está acordado ou dormindo? Como sabe se sua vida é real, ou se você é real? Talvez você seja fruto da minha imaginação também!”. Apesar da falta de provas, os argumentos eram ótimos.

E a palavra prosseguiu, dizendo: “Quando foi a última vez que ouviu falar em mim? Ontem? Hoje? Certamente, de algum modo, ouve falar em mim todo dia, ou quase todo dia. É só assim que existo. As pessoas me inventaram, e mesmo aqueles que não acreditam, devido à repetição, acabam se habituando com isso!”.

Às vezes me esforço pouco para entender. Neste dia foi diferente. Eu estava mais disposto. E “deus” me disse inúmeras coisas. No fim de tudo, acrescentou que eu talvez seja imaginado por alguém e nem exista. Ou, que tudo a minha volta é pura imaginação. Que saco!

Depois disso, quando achei que estava acordado, realmente acordei. Agora sim estava em minha cama, na minha casa. Estranho, é que levantei e vi que estava sozinho, de novo! Tudo bem. Liguei o computador, e... Apareceu, outra vez, a mesma palavra - “DEUS”. Logo pensei: “Não! Que coisa mais chata.” E neste momento, acordei novamente.