Textos são escritos através dos tempos, em consequência de uma construção pessoal dos homens em relação aos fatos que lhe são percebidos no decorrer de suas vidas.
Não se pode definir ao certo como eles são processados em suas mentes, ou mesmo, ordenados para serem utilizados oportunamente.
As experiências vividas pelo seres humanos não são iguais e mesmo que sensivelmente parecidas, dificilmente seguem o mesmo padrão estético ou estilístico. Alguns se embevecem com elas, porém, descartam-na no tempo, se esquecendo no futuro de tudo que passaram; outros, mais detalhistas e compromissados com as questões analíticas, guardam-na no inconsciente para “uso fruto” posterior.
Talvez aí se encontre a “linha tênue” entre o homem comum e aquele que produz o futuro, textualizando momentos, a fim de que os demais seres humanos o critiquem, o classifiquem, o abominem através de uma análise, primeiramente pessoal, para logo em seguida ser técnica; mais somente talvez!
E somente talvez, surja uma definição que separe épocas, umas das outras, quando alguns mais arrojados, em suas autorias, desbravam novos horizontes, ocasionalmente, ou não, levados pelos devaneios mentais que carregam a suas particulares experiências, misturadas com o paradigma imprevisível do que vislumbram quando em pleno estado de êxtase; refiro-me a uma projeção de futuro.
Então ele cria algo; um cenário, destes que podemos facilmente imaginar; um esboço que possui sombras, de uma árvore, geralmente de galhos retorcidos; exposta ao calor do sol, ou imersa no orvalho da noite banhada pela linda e prateada lua.
Vez ou outra, o cenário é cinzento e solitário, de lugarejos inventados ou retirados copiosamente de fragmentos de uma cidade qualquer, que trazem consigo pessoas, tristeza, e muita indiferença; que são características típicas do homem urbano.
O cenário e o personagem se unem para uma nova vida, fora da realidade, mesmo que estejam fazendo parte de uma narração que conte fatos históricos, porque ainda assim, se encontram fora do tempo, e podem sofrer uma dose imaginária da reacionária insanidade da mente.
E realizam assim, a proeza de existirem, virtualmente, submergindo o transcendentalismo de muitos, ou de poucos, durando muito anos, ou nem tanto. Isso quem pode definir, não é ninguém; ou aquele paradigma.
Para o Físico e Astrônomo Marcelo Gleiser, renomado cientista mundial:
 
“...É precisamente na fronteira do conhecimento que a imaginação tem seu papel mais importante; o que ontem foi apenas um sonho, amanhã poderá se tornar realidade...”
 
E ainda na estrada de suas definições:
 
“Nós criamos os Deuses para poder imitá-los..”
 
Seriam os textos então a pura e simples manifestação do pensamento psicossomático humano que nos leva a crer no algo que, a princípio não podemos ver fisicamente e tampouco tocar, fatos que satisfatoriamente saciariam a sede áspera do “Ser”, que eternamente se fere relutivamente na mácula de construir o seu destino “Vindo a Ser”?
E esses Deuses, que não se referem ao Criador; talvez aqueles que outrora se encantaram pela beleza das filhas dos homens (Gênesis 6:1-8); seriam Eles fragmentos de nossa inocente evolução, realmente limitando fronteiras de muitos e, por conseguinte, deixando para os poucos alucinados a saga de produzir vida, fora da vida que conhecemos, e trabalhá-la aos poucos, para que, repentinamente, surja um esboço qualquer, no papel, tal qual talha ou lapidação?
Esse é o Ser diferenciado ao qual alcunhamos de Escritor, que irá direcionar tantos e tantos destinos, mesmo após o seu Eu ter findado pela morte qualquer.
Para o Segundo Conde de Rochester, John Wilmot (1647-1680), na tradução do poeta e ensaísta Augusto Luís Browne de Campos:
 
“...Fosse eu, que por acaso levo o nome
Da rara e prodigiosa espécie: o Homem
livre para escolher meu próprio curso,
A carne certa e o sangue natural,
Queria ser Macaco, cão ou urso,
tudo menos o fútil animal,
tão orgulhoso de ser Racional...”
 
Portanto, a mente humana é reveladora de si própria externando-se na medida em que é aguçada egocentricamente, fazendo-se transportar ao papel as suas mais libertinas imagens. Uma necessidade lógica de parte de nós que necessita transpor barreiras e falar de forma retórica através das linhas escritas, para que algum leitor a entenda, a interprete e a conceba como fonte de inspiração, varando o tempo e a lógica do que existe ali em sua medíocre contemporaneidade.
O mistério existe justamente aí, entre o personagem e o cenário virtualizado pelas lembranças que o homem adquire do meio, ora real, ora surreal; embora às vezes, o modelo passe despercebido pelos olhares ingênuos de milhares de lítero-expectadores.
 
                                                                                                    Continua...
 
 
 
 
 
 
O Guardião
Enviado por O Guardião em 03/09/2009
Reeditado em 10/09/2009
Código do texto: T1790373