Da ostentação
A ostentação os sentidos já não seduz. Se diz, não condiz ou conduz. Grite poesias. Não esqueço do gesto pequeno, nem da flor fugidia – ou a 3x4 na carteira, uma lembrança, uma vida inteira. Ao avesso, silencio em mim o tolo apreço, anarquizo, emudeço.
Mas não me perco. Prudência, esperança, consciência – sem presságios de fracasso ou sutil decadência. Não me faça promessas, não me ganhe em conversas.
É verdade que as músicas fazem sentido, que nem tudo no mundo está perdido. Entre intenção e gesto, fiz do amor meu manifesto – a sinapse do infinito, a sinopse do universo.
É só amor, ensaio e cena – a cada ato enceno a indiferença. As máscaras caem, a maquiagem se esvairece, a armação ainda reina, o sorriso é que desaparece. O cenário some, mesmo com a contínua prece, as pessoas se agitam – o aplauso é que emudece. Hipocrisia, afonia, claustrofobia, poesia, fim da linha.
E o mesmo céu que um dia convicto sonhando mirou, testemunhou, com garras e gritos, o reerguer, o ardor – o renascer de uma flor.
Eu escuto bocas cheias de promessas e vejo mãos completamente vazias. O mundo se repete e insiste em ser o mesmo: erros, buscas, segredos, defeitos. O mundo não se move no compasso do coração, nos passos de uma ilusão, nos retratos de solidão. A ostentação os sentidos já não conduz. Se diz, não condiz ou ao menos seduz.