SÓ
Não raro, me pego triste ao deitar-me a solidão, e no silêncio de uma
hora qualquer, passo a declamar os trechos que decoro, dos versos que
eu escrevo. São reflexões sinceras, talvez do meu inconsciente porque
não se pode mentir para si mesmo. Gosto de expressar minhas emoções através das letras que aprendi juntar, na forma que aprouver quem as recebe,seja como poesia, crônica, poema ou coisa que valha.Ali, naquela folha,na tela de um micro, abstraio-me de pudor, minha vergonha enrijecida. Sou mais fluente, ultrapasso meus limites, desobedeço minhas próprias normas, mas não faço na realidade a razão de um verso, não mastigo com prazer as imagens em forma de iguarias e nem bebo incontinente o suco doce de um amor sonhado. Não consigo ser o homem
que plantou uma poesia sem ser contraditório ao tema vinculado. É como roupa luxuosa em noite de gala, máscaras cintilantes em dias de festas, tudo se encaixa conforme o combinado. São poucas as horas em que me separo do castigo e cativo a liberdade de um olhar sem destino.
Sufocantes, esses momentos, reveladoras essas horas, um teatro da minha dúvida, esses papeis que represento, ser a personagem de si mesmo e decorar as falas que eu mesmo inventei para ser feliz.