Gólgota

Na defesa da serpente, age a presa,

Na beleza da rosa, o eriçado espinho golpeia...

Na suavidade do vento, o temido furacão devasta,

Na vitalidade do sol, a ação ultravioleta define...

Na calmaria das águas fluviais, as traiçoeiras correntezas arrastam,

No refrescar das chuvas glamorosas, as severas tempestades destroem...

No ar saudável que permite a vida, as ameaças bacterianas matam,

No alimento à mesa que sacia, as invasões agrotóxicas infectam...

No inevitável dia-a-dia, a reconstituição do Gólgota,

No sonho ilimitado, as ambições desmedidas...

Nos grandes postes da ascensão, o escasso reconhecimento,

Na lei da conservação natural, a cumplicidade das armas aniquiladoras...

Ante o perfume que exala das flores, aderimos o Fel,

Ante o bem que promove, optamos pelo mal que dissolve...

Ante a reparação consciente, nos munimos da intorpecência que maltrata,

Ante o amor que une, alimentamos as paixões que ferem...