ESPECTADORA DE MIM MESMA...
Existem dentro de mim angústias e contradições a respeito
do que exerço. De um lado, a proposta de libertação do "ser" que
me procura; de outro, as amarras em que me envolvo dentro do
meu espaço. Horas e horas sentada ouvindo minhas próprias histórias,
cavernas de amor ou angústia repassando em meus ouvidos, formas
de corpos, olhares de todos os tipos transcendendo-se na busca de
uma explicação. Exerço a função de espectadora: austera, brincalhona, louca, cansada, frustada, apaixonada, enlouquecida,
sábia, endividada, triste, alegra, de saco cheio, vigilante, de piloto
automático ligado, atenta, dispersa, sonolenta, assim, persigo dias
sem fim. O dedo no nariz, a casquinha que encomoda, o bocejo
contido, o enfadonho surpreso, o tesão suspenso, as coxas roliças
deslizando sensualidade, a lágrima suicida apertando o coração,
o ridículo e o escabroso frente a frente na solidão das horas.
Somente o prazer como metáfora. Persigo então, o cansaço de
dias sem fim.