UM PRESENTE

Uma concepção estruturalista do mundo, não concebe uma visão fundamentalista do mesmo.

E sem eira nem beira compadeço com àqueles inauditos que se entregam às paixões alheias, que nos casos mais individuais, poderão, senão trazer tristes recordações, farão com que àquele que se busca no outro, se jogue às aventuras que não se sabe o quão profundas poderão serem as marcas.

E nesse vai e vem de caminhadas nem sempre conhecidas, o espelho, ao refletir o que não queria ser mostrado, tornar-se-á o maior inimigo.

O saldo dessa conta que nunca fecha, será o combustível para novas buscas e conquistas que ao final, como numa teia de aranha, apontará infinitas possibilidades. E das inúmeras opções colocadas, como num jogo de dados ou nas cartas do baralho da vida, àquele que está à frente, só lhe restará se entregar à sorte, resultando daí (des)caminhos aleatórios.

E tal qual numa novela ou filme, o epílogo, refém de um roteiro não escrito, ficará ao sabor das individuais interpretações. E como única anotação, sucinta como um lacônico “gostei”, o reconhecimento de que tentou.

Na parede, transcorrido tempo suficiente para causar surpresa aos olhares visitantes, apenas um retrato e uma data, já meio apagada que impede sua precisão, que aos convidados nada revela senão que houve história.

Sendo que etiqueta da boa educação indica não mexer nas coisas alheias, alguém desavisado ou que pouco liga para essas normatizações, decide, às escondidas, vasculhar um pouco mais e, sob uma fina folha de papel colada com durex, descobre uma frase que não revela muito, mas inspira, ao atrevido “arqueólogo”, pensar naquelas palavras.

Guardas como um tesouro aquelas palavras permaneceram em segredo, até que já na sua despedida da vida, o outrora aprendiz de arqueólogo, confia ao seu mais querido amigo aquelas palavras, exigindo apenas que as colocará na sua lápide.

E tendo a garantia de tal desejo, fecha os olhos.

Aos visitantes que hoje transitam por aquelas sepulcrais alamedas, uma sepultura, mais pelas palavras ali gravadas, chama mais atenção. Não se trata de uma celebridade das letras, nem tão pouco de um importante filósofo, mas de uma pessoa que sonhou e amou. Cheia de defeitos e algumas virtudes, que acreditava que mais do gostar do TER das pessoas, valorizava o Ser delas.

E hoje, se aquelas palavras buscavam, como um espelho refletindo uma bela imagem, transcender às questões filosóficas, tenho a obrigação de confessar que para este que vos escreve adquiriu um forte gosto pela possibilidade do aprendizado.

Para não prolongar o que se seguiu e se desculpando pela tomada do seu tempo, caro leitor, transcrevo, e já me antecipo no pedido de ajuda para interpretá-la, a frase que me foi passada por pessoa que nunca mais vi. EU SOU AQUELE QUE NÃO ERA EU ANTES DE MIM, são as palavras que compartilho com você, caro leitor.

silvio lima
Enviado por silvio lima em 11/08/2009
Código do texto: T1747629
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