DA NÃO ONIPOTÊNCIA DO AMOR

Tudo de que se precisa é ficar junto, partilhar do que quer que ocorra no ser amado e em seus caminhos. Tudo de que se precisa desistir é da presunção de um poder demiúrgico segundo a qual nosso amor, nossa dedicação, nossa devoção sejam capazes de alterar o que os Fados determinaram para a trajetória deste ser amado, ao longo de cada um de seus tempos no mundo.

Em termos diversos:"Ninguém muda uma vírgula do que o outro é nem do que o destino a este outro determine".

Se o fardo da partilha for demasiado para nossas forças e, desde que o nosso próprio Fado assim o permita, partamos de tal partilha; se ficarmos, por escolha ou por imposição ética e de gratidão (como se estar sozinho, em sacro ofício, ao lado de mãe ou de pai idoso e doente) não nos queixemos; afinal, fora qualquer outro o caminho, nos é vedado saber quais seriam os seus espinhos e se tais espinhos não nos estariam ainda mais profundamente cravados do que no presente destino que nos coube cumprir.