Sobre a Indiferença
Estou convencido de que se tem algo que é pior que a brutalidade é a destruidora indiferença. Ela ataca todas as classes sociais, todas as raças, todos os credos e todo o tipo de subdivisão ou conceituação humana. É uma cobra peçolhenta que nos espreita todos os dias e em todos os momentos das nossas vidas, esgueira-se pelas nossas almas aguardando o momento oportuno para nos atacar. Presumo que o leitor deve estar se perguntando o motivo de tamanho repúdio. Respondo-lhe com firmeza: a indiferença manifesta-se sutilmente, utiliza todos os artifícios possíveis para se disfarçar, age algumas vezes coberta até pelo manto da inocência. Eis abaixo alguns exemplos:
Uma pessoa que trabalhou conosco por vários anos, ou talvez apenas por alguns meses, passa diante de nós num local público ou até mesmo dentro de um shopping e simplesmente baixamos a cabeça, ou então, e pior ainda, desviamos o caminho a fim de não cruzarmos com esse infeliz. Numa rua qualquer, um mendigo suplica-nos uma moeda e instantaneamente torcemos o rosto, fingimos que não ouvimos o pedido e seguimos em frente. E a nossa ex-namorada(o), ou, pior ainda, a nossa ex-esposa(o) cruza conosco por uma via e fingimos estarmos cegos; eis aí o clímax da indiferença: uma criatura que beijou os nossos lábios por meses, ou quem sabe vários anos, que compartilhou a nossa cama, as nossas vidas, e que severamente apagamos da nossa memória como se apagassemos um mero texto do Word, apenas com um delete.
Portanto, julgo que sintetizei bem o que é a execrável indiferença. Tal sentimento é o mais obscuro, o mais infernal, que possuímos. Torna-nos desumanos na nossa essência. Por conseguinte, deixa-nos semelhantes aos animais que, por exemplo, executam a procriação em determinado momento e no outro, bem próximo, passam de cabeça baixa comendo as ervas daninhas e as frutas da terra, sem ao menos lembrar da cópula que haviam acabado de praticar. Pois bem, devemos fugir desse sentimento, devemos ficar alertas a fim de não agirmos como verdadeiros animais irracionais diante da nossa vítima: o próximo.
Indiferença, onde te escondes no meu corpo? Para que eu te arranque das minhas entranhas!