PERDÃO

Vivo a pedir perdão todos os dias, em cada minuto do dia, a vários dos entes que me couberam e me cabem como companheiros, desde aquela a quem devo a vida e a quem consagro a minha, perdão por tantas vezes fazê-lo a contragosto e em sofrimento (que tal sacro-ofício me tomou os ofícios outros todos que me devo) até e acima de tudo a um homem,o mais amado e o mais triste dos homens pelo crime de, nesta vida,tê-lo abandonado duas vezes, em razão da aparição de outras fidelidades às quais, certamente e sem que o soubesse, devia também cumprimento; injunções incompreensíveis de um Fado talvez traçado há milênios, Fado perante o qual só me resta curvar-me, curvar-me e curvar-me, tentando crer que, de tantas Renúncias, ainda nos virá a todos, em alguma outra Vida e Tempo, a Compreensão e o Bem Necessários.