Chove
Às vezes o meu próprio tédio me inspira, o relógio indo pra frente e para trás me obriga a escrever para fazer o tempo passar a força, esses minutos intransponíveis são insensatos.
Quantos minutos esse tédio ira repousar sobre os meus olhos como uma nuvem? Qual o valor do tempo perdido? Quantos dias eu ainda tenho? Essas perguntas me jogam bruscamente neste vórtice que mistura tempo, tédio, dúvida e solidão, as faço a mim mesmo e rezo a um deus que está em meio a névoa chuvosa pra fora da minha janela para que responda, ou para que coloque a resposta perante a mim. Ele não me ouve, ele não existe, nunca quis que ele existisse, a onisciência que possui deus é um desafio as minhas dúvidas e devaneios, ser deus é a minha meta de vida.
Neste tempo em que criei e matei o meu deus da chuva vozes atravessam a minha linha de audição, vozes das quais não consigo distinguir uma palavra que dizem e que entram e saem da minha cabeça como se brincassem no jardim, começo a achar tudo uma lenta loucura, a visão turva e lacrimosa como o vidro da janela abandona-me e as palavras deixam de ser balbuciadas ou lidas, elas entram diretamente no pensamento e causam o seu efeito integral, me atingem.
Enquanto fustiga e derruba as árvores lá fora, o vento dá a mim uma atenção especial e deita-me com cuidado.
Enfim o sono, a magia da chuva.