A CAVERNA DO DIABO
Não, não se trata da Alegoria da Caverna de Platão, embora guarde algumas poucas semelhanças. É uma lembrança vaga de uma aula de Química, no qual não recordo muito bem das informações em detalhes, mas me marcou bastante. Não pela veracidade ou falsidade da história, mas por algo mais sutil, que talvez ninguém da minha classe tivesse percebido. Não importando se os dados aqui apresentados corresponde ou não á história, mas quero apenas ressaltar a coerência do pensamento cético.
Imaginem que você é jovem, no século XIX, e toma conhecimento de que, em algum lugar do Brasil, há uma caverna repleta de mistérios e histórias das mais estranhas possíveis. Os habitantes a chama de “A Caverna do Diabo” ou “Caverna do Demônio” e atribuem a ela uma série de eventos fantásticos e catastróficos. Mas você é um homem inteligente, letrado e crítico. De certo não acreditaria nestas lendas. No entanto, você constata algo que não pode ser ignorado: há uma enorme correlação entre pessoas que ousaram adentrar a tal caverna e tiveram um destino fatal. Pessoas que usavam a caverna como fonte de sustento apresentavam doenças graves e, não raro, morriam cedo.
Para aumentar seu espanto, você descobre que estudiosos já estiveram na caverna e tiveram um destino fatídico. Ninguém encontrou nada revelador, nenhuma particularidade, nenhuma diferença substancial entre esta caverna e as demais. Todos os conhecimentos de química, geologia, medicina não dão conta de explicar este fenômeno. Todas as hipóteses naturais foram descartadas e, depois de apresentar alguns sintomas característicos, você começa a suspeitar de que aqueles incultos habitantes podem ter razão. A única explicação que lhe resta é de que a causa destes fenômenos desastrosos só pode ser sobrenatural.
Após muitos anos, como você é um estudioso, ao ler sobre Marie Curie, descobre algo curioso. Ela estudou e descobriu elementos químicos capazes de emitir radiação, e que esta radiação, em altas doses, poderia ser mortal, assim como o foi para ela. Logo você lembra-se da velha caverna que o assustava na sua juventude... A Caverna do Diabo! Tudo ficou claro como o dia agora! A caverna era rica em material radioativo, o que causava doenças e mortes a quem ousava adentrá-la. Você sente-se envergonhado por ter atribuído a demônios algo que agora pode ser prontamente explicado pela ciência. Mas como você poderia não atribuí-lo? Na sua ânsia de respostas, esta era a melhor que você dispunha, embora estivesse errada.
Prontamente você lembra-se de um amigo seu, que embora não tivesse resposta alguma para a questão, não caiu em erro como você. Ele jamais havia imputado ao sobrenatural aquilo que não podemos explicar racionalmente, como ensinara o grande Hipócrates de Cós. Certamente este homem seria visto como um tolo no seu tempo, por não apresentar resposta alguma para tal fenômeno, ou uma pessoa vazia e sem opinião. Ao escolher a melhor resposta, pois não era possível afirmar que fossem causados por materiais radioativos antes d’eles serem descobertos e suas propriedades fossem estudadas, todos caíram em erro, exceto seu amigo, o cético.