Discurso sobre a imagem
Tom Muniz
17/07/09
Recebo com certa estranheza a prosaica pergunta e muito costumeira: o que você faz? Jamais respondi com sinceridade. Hoje em dia tenho conquistado um sonho de muita gente: permanecer indiferente à imagem que os outros constroem sobre nós. Faço isso tão bem que nenhuma pessoa que viveu em meus arredores saberia dizer quem sou. E dizer quem uma pessoa possa ser é sem dúvida ter tido a chance de figurá-la num desses tipos sociais existentes. Para tanto, pensa que me escondo de todo o mundo, me ausento da vida, e saio disparado em fuga? Podem estar certo de que uma pessoa que se esconde não consegue jamais se esquivar do julgo dos outros passantes. Ora, o que importa às pessoas não é tanto saber quem nós somos, o que importa é nos perseguir com os olhos criados na própria incerteza caseira, e se guiando pelo nosso vulto, deixam o ponto cego do espelho da existência titubeante, então fundam para si uma imagem por meio desse jogo complexo a que chamamos: a vida dos homens. Não querendo ser filósofo, tampouco imitá-los, limito-me a esse começo de linha.