NOITE EM CLARO
A noite passada foi um tanto quanto emocionante. Fugindo de toda aquela barulheira e toda aquela gente, eu pude encontrar você. Ouvir você e olhar nos seus olhos representou a realização de um desejo que há semanas meu coração tanto pedia. Para mim, já bastava aquela noite terminar com apenas uma troca de olhares nossas, mas para o meu coração um beijo representaria a libertação de uma angústia tão grande e destruidora que me acomete todos os dias. Mas como tudo na vida a gente faz e paga nela mesma, centímetros me distanciavam de você. Estava tão perto que pude sentir a sua respiração, os seus batimentos, o seu corpo leve. Mas ao mesmo tempo fui jogado para longe quando apenas um gesto com a cabeça negou qualquer contato que apenas belos amigos são proibidos de fazer. Você foi embora sem se despedir. A noite acabou ali, e a minha sede por algo que me fizesse esquecer tudo aquilo aumentou.
Às três horas da manhã, estava eu conversando com a imagem de Nossa Mãezinha, pedindo a ela que me desse força e coragem para absorver a idéia de rejeição pela qual passei fazia algumas horas. Doía, doía muito. Meus olhos pediam apenas um descanso, e o meu coração pedia você ali naquele momento. Mas nada pude fazer. Onde estava você nesse momento? O que estava fazendo? Com quem estava?
As horas passaram, e eu não consegui dormir. Pensava em você a todo instante. Cada gesto seu e cada palavra sua eram pertinentes no meu consciente. Percebi que já era tarde demais para dormir e que eu correria um sério risco de sonhar com você coisas boas que não se realizariam. E como num ato de rendição, levantei-me e fui tomar um banho. Eram cinco horas da manhã, e eu ainda estava acordado. Não adiantava mais nada. Peguei minha bolsa e fui ao ponto de ônibus. Peguei o primeiro coletivo que veio, sem saber que rumo eu levaria. Tantas pessoas àquela hora da manhã compartilhando o mesmo ambiente comigo. Mas será que sofriam com o mesmo problema que o meu? Desci numa parada conhecida e andei durante quinze minutos até a minha casa. Acordei minha mãe, dei os parabéns a ela e fui comer algo.
São sete horas da manhã, e eu estou aqui escrevendo esse desabafo que representa a trajetória de um homem que teve a oportunidade em suas mãos, mas vacilou e cometeu erros os quais o preço é bastante doloroso e ardido. Sem dormir, meu coração grita o seu nome e pergunta quando e onde eu a verei novamente.