NÃO SOU INOCENTE






E então veio a vontade de escrever. 


Minha necessidade de palavras está intimamente ligada ao sentimento.


Um afeto que não se dedica ou simplesmente existe e permanece em aberto como toda página em branco parece estar.


Escrever é um desafio muitas vezes doloroso. Outras, pura liberdade.


Não sou o que escrevo porque isto está além de mim. A consciência do que me limita e diferencia, daquilo que é exposto em frases que se encaixam para contar uma história, é um conforto (e um confronto).


Alguma parte da minha alma alimenta o desejo de ter o que expressar. Não importa o quanto eu mesma calei. Muito menos, os tortuosos caminhos por ventura trilhados.


A maior desventura é paralisar pela dor, congelar-se imersa em vazio.


Não escreveria sem esta força: abençoada resistência que se opôs a mim.


Não. O mundo não é cruel. Nem sou inocente.


Escrevo porque perdi, entre outras coisas, a inocência.


No entanto, há uma alegria nisso. Um contentamento herege. Talvez, a marca daqueles que sobrevivem a si mesmos.





(*) Imagem: Google

Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 29/06/2009
Código do texto: T1674119
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