Marionete

Cuidadosamente, tento virar todas as páginas infelizes deste capítulo da minha vida.

Durante meses deixei-me levar por linhas e traçados, tão incógnitos para mim, mas que julgava serem um presente.

Fechei os olhos a tudo o que me cercava. E, assim de olhos fechados eu julgava possuir tudo quando, na verdade, eu não possuía nada... mas, sorria... E fingia... E voltava a sorrir...

Não concedi-me o direito de ser racional e inteligente. Não concedi-me o direito de ter vontade própria. E, adentrei numa peça, onde assumi um dos papéis mais infeliz deste drama.

Fui a marioneta presa por fios frágeis, que se manipulavam tão facilmente ao sabor do toque dos dedos do meu manipulador.

Fui brincadeira! Fui boneco! Fui o bobo!

Fui tudo aquilo que desejaram fazer de mim…

Ao sabor do toque dos seus dedos eu, marionete, escorregava brandamente pela imensidão de um palco desprovido de cores, desprovido de claridades... madeira antiga somente...

Uns dias, movia os meus fios de forma a dar uma expressão de alegria, de felicidade. Por vezes, até, me situava num lugar de destaque, para me obrigar acreditar ter algum valor. E, nesses dias, eu, marionete, julgava-me mesmo meritória!

Nesses dias, sentia-me a atriz principal. Sentia-me a atração principal de toda a representação.

Mas esses dias eram muito poucos. Muito raros...

Mas eram suficientes para manter eu, marionete, presa a ilusão de um sol que mostrava-se brilhante, mas que não esquentava...

E vinham após os outros dias... que triunfavam por maioria...

Eram dias em que eu, marionete, assumia o papel de estúpida, o papel de limitada, bronca até. Aquela que só existe para levantar o ego de outrem.

Depois, atirada a um canto, ficava esquecida a expectativa de mais uma peça. Sem jamais saber qual seria desta vez o papel.

Seja qual for o papel, que assuma. Jamais será um papel que transforme eu, marionete, em um ser feliz. Pode ser um papel que me faça sorrir, e até com manifestações de alguma felicidade, mas, serão apenas expressões para animar quem engendra os seus fracos fios e para animar quem assiste confortavelmente do lado de fora do palco ao mais infeliz cenário.

No palco, eu, marionete empoeirada, de olhar vazio, presa a vida por um fio permaneço a expectativa do cair do pano para atirar o meu derradeiro suspiro...

Desejando ardentemente que os meus fios fracos se façam em pedaços… ou quiçá alguém com compaixão os talhe…

Tatiane Gorska
Enviado por Tatiane Gorska em 23/06/2009
Código do texto: T1663070
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