BALDE D'ÁGUA FRIA
Olhe para nós! Pensas que somos originais?
Não passamos de um monte de estereotipos, uns sobre os outros, numa busca frenética por originalidade. Somos o que alguém já foi anteriormente, nada em nós é original. Nada o que falamos é original. Nada o que pensamos é original. Nada o que escrevemos é original. Pois a última coisa original dita nesse mundo foi: Fiat Lux! E até mesmo isso foi copiado por fabricantes de palitos de fósforo.
Nada pode ser novo, pois tudo já foi experimentado. Nenhuma frase, nenhuma fala, nenhuma nota ou acorde de violão. Isso é o que herdamos: Um mundo desoriginal, onde tudo se reproduz Ad aeternum. Discursos já ditos por dentro de discursos que são falados agora. Pensamentos esses nossos já navegaram por mentes outras. A arte está estagnada. Essa é a maldição do homem moderno: não ser capaz de superar seus ancestrais. Tudo o que fazemos é esmiuçar coisas antigas sob a lente dum microscópio, procurando um caminho novo em meio a nossa falta de direção. Tanta informação, pouca sabedoria.
Cultuai os mestres mortos, pois eles tiveram a sorte de nascer antes de ti, num mundo onde tudo era novo. E hoje, qualquer tentativa de inovar é vítima da comparação, essa serpente má, inimiga dos neófitos da arte. Machado de Assis, Dostoievisk, Balzac, Goethe, Shakespeare, Hemingway... tantos outros, todos mortos, mas continuam assombrando nossa capacidade, reduzindo nossos esforços a reles reproduções.
Escrevei um romance! Componde uma canção! Pintai um quadro! Mas sabei que haverá, sempre, um resquício, um detalhe, uma nódoa de um defunto em tua arte. Conformai em ser um simples reprodutor, jamais um produtor...